FLAVIA LIMA, DANIELLE BRANT E DANYLO MARTINS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Algo descartado pelo mercado até poucos dias atrás, o risco de um novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil voltou a ser discutido por economistas em razão da crise política, intensificada com a delação de Joesley Batista.
Para o Deutsche Bank, é seguro dizer que o risco de novos rebaixamentos aumentou significativamente, ainda que seja cedo para concluir algo sobre o destino das reformas previdenciária e trabalhista.
Economista do banco japonês Nomura, João Pedro Ribeiro não enxerga uma disposição imediata para um rebaixamento, mas diz que, se as chances de aprovação da reforma da Previdência continuarem pequenas, a queda na classificação se tornará uma possibilidade bem real.
O Brasil está dois níveis abaixo do grau de investimento (o selo de bom pagador, espécie de reconhecimento de que o país é um lugar seguro para os investidores) nas três principais agências: Fitch, S&P e Moody’s.
A diferença é que Fitch e S&P mantêm perspectivas negativas para o país, enquanto a Moody’s alterou a perspectiva da nota para estável no início do ano, em um primeiro sinal de confiança de que o risco de novos reveses para o país fora afastado.
Economistas tinham a avaliação de que Fitch e S&P aguardavam um encaminhamento mais claro das reformas para, possivelmente, melhorar a sinalização. E até os mais pessimistas descartavam um novo rebaixamento.
A Fitch informou nesta sexta (19) que manteve a nota de crédito do Brasil em grau especulativo, citando incertezas na recuperação econômica, preocupações políticas e fraqueza estrutural das finanças.
Já a Moody’s disse que as alegações envolvendo Michel Temer prejudicam a perspectiva de crédito, ameaçando paralisar ou reverter o momento positivo na economia.
Marcos Mollica, gestor da Rosenberg Investimentos, diz que as delações farão as agências olhar com mais cuidado a situação do país, mas não são suficientes para rebaixar a nota. Se a reforma da Previdência não for aprovada, porém, a avaliação é outra: “Há risco de rebaixamento, sem dúvida”.
Para James Gulbrandsen, chefe de investimentos para a América Latina da NCH Capital, gestora americana especializada em mercados emergentes, a probabilidade de as reformas continuarem neste momento é muito baixa e o estrangeiro está mais focado na resolução da corrupção do país. “Se as alegações forem provadas e Temer não sair do cargo, o investidor vai resgatar o investimento dele e não vai voltar logo.”
Nesta sexta-feira, o mercado recuperou parte das perdas registradas no pregão de quinta-feira (18). O dólar comercial fechou o dia com queda de 3,92%, para R$ 3,257. A Bolsa subiu 1,69%, para 62.639,30 pontos.