O Brasil mergulha numa crise política que parece sem fim. Com a delação do grupo JBS e as provas apresentadas ao STF, o presidente Temer perdeu todas as condições políticas de continuar no cargo. Antes faltava-lhe legitimidade, agora, faltam condições morais pra conduzir os destinos da nação. Quem e como substituí-lo? Eis a questão.

Essa situação de crise continuada é a agonia do sistema político erigido depois da ditadura militar, que foi batizado de Nova República. De todas suas mazelas, o principal motivo de deterioração desse modelo foi a adoção do financiamento empresarial das eleições. Essa anomalia, recentemente declarada inconstitucional pelo STF, naturalizou o tradicional patrimonialismo, prática secular na política brasileira, que não respeita os limites entre o público e o privado.

Todas as investigações sobre corrupção no país, sempre encontraram agentes políticos e empresas entrelaçados. Foi assim com a Odebrecht, com a OAS ou com a JBS. Quem financiou o sistema político cobrou um alto preço, seja na forma de superfaturamento de obras públicas ou pela obtenção de vantagens na legislação feita sobre encomenda dos financiadores de campanhas de parlamentares e pagadores de seus serviços.

Os áudios entre Temer e Joesley da JBS e deste com Aecio Neves, presidente do PSDB, são provas da falência múltipla dos órgãos da Nova República: patrimonialismo e associação criminosa praticadas pelos líderes políticos do regime. Esse sistema ruiu, colapsou. O golpe de estado que depôs a presidente Dilma não conseguiu dar estabilidade política ao governo ilegítimo. Esse, por sua vez, sucumbiu às vicissitudes do próprio sistema político.

O governo se sustentava em três pilares: as forças econômicas de mercado, a grande mídia e a maioria do congresso conservador. Não se sustenta mais. Foi a maior player de alimentos do mundo que o delatou, foi o maior grupo de comunicação do país que noticiou e é grande a perda de apoio político. A reação de Temer é pífia, retórica. Lembra os últimos suspiros de quem está em estado terminal. Seu governo é um cadáver insepulto.

O que fazer? Essa é a pergunta que inquieta as mentes brasileiras. Quem concebeu e defende o golpe aposta na eleição indireta, num presidente biônico. Um risco. A jovem e intermitente democracia brasileira está sendo submetida a um teste de stress e tem resistido até agora. Dificilmente suportará mais um presidente sem voto.

Só com a participação do povo, o Brasil sairá dessa crise. Não há outro caminho. O contrato social de quem ganha governa, quebrado pelo golpe, tem que ser reestabelecido. A eleição direta, e já, do próximo presidente é a saída urgente pra enfrentar a crise. Essa é a agenda das ruas. Mais democracia pra assegurar a democracia!

 

Robinson Almeida é deputado federal pelo PT/BA