RANIER BRAGON BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Apesar do discurso de que não irá tomar nenhuma medida para agravar a crise, o PSDB, principal aliado do PMDB na base de apoio a Michel Temer, evitou reafirmar apoio ao presidente da República nesta quarta-feira (24) e já discute abertamente uma eventual transição. Após se reunir com toda a bancada de deputados federais, o presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), disse que o partido se coloca frontalmente contrário à alteração da Constituição para a realização, agora, de eleições diretas. Em caso de queda de Temer, a lei estabelece nesse momento escolha indireta, pelo Congresso. “A Constituição é fundamental, nós vamos nos apegar de todas as maneiras à letra da Constituição. Não vamos sair da Constituição sequer um milímetro”, disse Tasso, para quem defender diretas-já neste momento seria um “casuísmo”. “Não podemos ficar brincando de mudar a Constituição a cada crise.” O tucano é um dos principais nomes cogitados para concorrer à sucessão do peemedebista, caso ele deixe mesmo o Palácio do Planalto. Questionado diretamente sobre isso, ele fez piada. Diz que sua maior pretensão nesse momento é “ser prefeito de Pacoti [interior do Ceará, onde ele tem um sítio].” O presidente do PSDB se negou ainda a responder diretamente, por duas vezes, a pergunta sobre se é possível superar a crise com Temer no comando da nação. Ele se limitou a dizer que a superação passa pelo “diálogo” com o peemedebista. Nos bastidores, os tucanos esperam ter o apoio dos peemedebistas para emplacar o novo presidente na eleição indireta. Na reunião a portas fechadas, a cúpula do PSDB decidiu que irá fazer uma avaliação dia a dia da manutenção ou não do apoio a Temer. O desembarque do partido é visto como a gota d’água que precipitaria a queda de Temer, já que é o principal aliado do PMDB no governo. “A definição de qualquer que seja o movimento que venhamos a ter vai ser em conjunto com o partido, não vai ser da Câmara, do Senado, dos governadores, prefeitos, da Executivo, vai ser do partido. Vamos intensificar as conversas cada vez mais, acompanhar hora a hora o desdobramento da crise”, disse Tasso. EXÉRCITO Os tucanos também afirmaram ter recebido mal a decisão de Temer de colocar o Exército nas ruas ajudar a conter depredações na Esplanada dos Ministérios. Nos bastidores, deputados do partido afirmaram que isso é uma demonstração clara de perda do controle sobre a situação. Na entrevista após o encontro, Tasso disse ter ficado “assustado” com a notícia, mas afirmou que ela pode ter sido utilizada mediante informações de que a polícia não estava conseguindo conter as depredações. “Somos uma geração que cresceu e passou a adolescência em um clima de exceção da ditadura militar, da quebra da Constituição, vivemos com euforia a redemocratização e a nova constituinte. E a presença militar é sempre uma coisa que nos assusta. Então ficamos assustados, preocupados. Mas por outro lado tivemos a informação de que a polícia não estava dando conta das depredações”, disse o senador, para quem isso só deve ser feito em último caso e tem que ser debatido com o presidente.