SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A procuradora-geral da República, Luisa Ortega Díaz, voltou a criticar o presidente Nicolás Maduro e as forças de segurança pela violência nos protestos e por não atacarem as causas que levam as pessoas às ruas. Segundo o relatório divulgado nesta quarta-feira (24), em 54 dias de manifestações 55 pessoas morreram, mais de mil ficaram feridas e outras 2.664 foram presas. Quase 350 estabelecimentos comerciais foram saqueados. Na apresentação do último balanço, Ortega Díaz disse que a crise política entre o governo chavista e sua oposição “não se resolve privando as pessoas da liberdade, mas reconhecendo que existe o problema”. “O descontentamento social é o resultado da severa crise econômica que leva ao desabastecimento de alimentos, remédios e à insegurança que existe.” Ainda sobre o desabastecimento, ela fez um chamado ao fim dos saques por alimentarem a escassez. As invasões a lojas aumentaram principalmente no interior, e o governo e seus rivais trocam acusações sobre os responsáveis. “Devemos parar com isso, porque se o país está passando por graves dificuldades econômicas esta destruição torna mais aguda os problemas que padecem a população para se abastecer de alimentos e remédios.” Sobre a violência das forças de segurança, citou como exemplo a morte de Juan Pablo Pernalete, 20, atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo em um ato opositor em Caracas em 26 de abril. Baseada na perícia do Ministério Público e no depoimento de testemunhas, a procuradora afirma que o artefato foi disparado à queima-roupa por um guarda, provocando uma lesão no tórax que levou à morte do manifestante. A versão é a mesma dos opositores e dos médicos que o atenderam. “Disparar bombas de gás contra as pessoas é proibido, é letal. A lei nacional e internacional proíbe que elas sejam atiradas diretamente nas pessoas.” Para o governo, Pernalete foi morto por manifestantes encapuzados com uma pistola de dardo cativo —arma usada para eutanásia de animais. O dardo provoca uma concussão que pode matar dependendo do órgão atingido. A versão foi reiterada nesta quarta pelo defensor do povo, Tarek William Saab, e pelo ministro das Comunicações, Ernesto Villegas. Saab disse que as investigações ainda não acabaram, apesar da perícia do Ministério Público. Ortega Díaz ainda criticou a guerra de versões sobre as mortes, ocorrida não só no caso de Pernalete, e os rumores publicados na imprensa e nas redes sociais. Ela disse que ambos afetam as investigações dos promotores. Desde março a procuradora-geral se distancia do governo. Ela considerou uma ruptura da Constituição a sentença que dava ao Judiciário as funções do Legislativo, dominado pela oposição, que foi derrubada dias depois. Ela também condenou a violência nos protestos, as prisões com flagrantes forjados e sem provas de manifestantes. Também é contra a Constituinte convocada por Maduro, por considerar que alimenta mais a divisão no país. AMEAÇA Nesta quarta, o Tribunal Supremo de Justiça ameaçou decretar a prisão de oito prefeitos venezuelanos, todos da oposição, se não impedirem a formação de barricadas e não zelarem pela segurança em seus municípios. Dentre eles, estão quatro alcaides de cidades que formam a zona leste de Caracas, reduto opositor. Eles deverão impedir o fechamento das ruas, a corrupção de menores e organizar suas guardas para as manifestações. Caso não cumpram, eles podem ser condenados a até 15 meses de prisão. O Judiciário repete medida tomada em 2014, que levou à prisão Daniel Ceballos, prefeito de San Cristóbal, berço da onda de protestos daquele ano.