ARTUR RODRIGUES E LEANDRO MACHADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito João Doria (PSDB) descumpriu ações prometidas para a estreia de seu programa anticrack e, como consequência disso, o centro de São Paulo ganhou uma nova cracolândia a apenas 400 metros daquela decretada como extinta pelo próprio tucano no domingo (21).
No final de semana, uma ação conjunta entre prefeitura e governo Geraldo Alckmin (PSDB) prendeu traficantes e desobstruiu três ruas ocupadas havia anos por viciados.
No mesmo dia, Doria afirmou que a cracolândia havia acabado e que começava ali o programa Redenção.
O projeto municipal, porém, todo negociado com o Ministério Público do Estado, estava quase todo apenas no papel. Uma das promessas era o cadastramento prévio dos usuários de drogas, para que a prefeitura pudesse dar o encaminhamento correto para cada um deles, como tratamento médico, por exemplo.
Sem isso, em meio a ações atabalhoadas e discursos oficiais dissonantes, o que se viu foram viciados espalhados pelas ruas e a formação de uma grande concentração deles na praça Princesa Isabel.
Discutido por dois meses com diferentes entidades, o programa de Doria prevê a criação de unidades ambulatoriais e a transferência de pessoas para moradia adequada, entre outras medidas.
Nas área de saúde, por exemplo, estavam a criação de um centro psicossocial na cracolândia e a ampliação do horário de 12 h para 24 h em unidade já existente na Sé -o que não foi feito até agora.
Especialistas ouvidos pela reportagem dizem que, após os usuários de crack terem se espalhado pela cidade, o trabalho de elaboração de planos de recuperação individuais pode ser inviabilizado.
Só as medidas de zeladoria foram integralmente cumpridas. Elas consistiam na fiscalização de imóveis irregulares e a limpeza das ruas.
A ação de retirada de lixo, porém, ficou restrita aos antigos quarteirões da cracolândia, nas ruas Helvétia e Dino Bueno. Algumas das barracas e lonas que tomavam essas vias foram transferidas para a praça Princesa Isabel.
A pressa da prefeitura para colocar em prática ações que já deveriam estar prontas no domingo teve efeitos colaterais além da mudança de endereço do chamado “fluxo” de dependentes.
Um deles foi a demolição de imóvel com pessoas dentro, o que deixou três feridos.
Isso custou derrota a Doria. A pedido da Defensoria Pública, a Justiça deferiu liminar na qual veta novas demolições compulsórias e remoção de moradores sem encaminhamento para programas de saúde e habitação.
A reboque da crise da cracolândia, a prefeitura buscou a Justiça para conseguir carta branca para internar usuários à força. O pedido, que não havia sido analisado pelo Judiciário até a noite desta quarta (24), representa mais um ponto não acordado com a Promotoria. Hoje, internações deste tipo são raras e sempre dependem de uma avaliação judicial para cada caso.