ARTUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário da Saúde da gestão João Doria (PSDB), Wilson Pollara, afirmou nesta quinta-feira (25) que não soube com antecedência da operação feita na cracolândia pela polícia, ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Pollara é um dos principais responsáveis pelo programa de tratamento de viciados de Doria. A ação aconteceu no domingo (21), com prisão de traficantes e dispersão de dependentes. Logo após ser realizada, foi exaltada tanto por Doria como por Alckmin. Em seguida, acabou espalhando usuários de crack pelas ruas do centro, provocando a criação de uma nova cracolândia a 400 metros da original.
“A situação policial foi feita sob sigilo, não tivemos nenhum tipo de informação que iria ser feita”, disse Pollara.
A declaração foi feita quando o secretário era questionado por jornalistas sobre a falta de credenciamento dos usuários de drogas, conforme estava previsto no plano Redenção, do qual ele foi um dos articuladores. “[O credenciamento dos viciados] não foi feito antes no dia D porque não tem dia D [ação policial] no projeto. O dia D foi uma situação excepcional, policial, necessária, através da avaliação da equipe de segurança”.
A afirmação de Pollara contrasta com nota da assessoria de imprensa de Doria, enviada à reportagem no dia 22 de maio. O comunicado diz: “Para evitar vazamentos de informações que prejudicassem os trabalhos, nem toda a estrutura da prefeitura foi avisada sobre a ação, somente o prefeito e secretários diretamente envolvidos no projeto Redenção foram informados com antecedência”.
O discurso adotado pelo secretariado de Doria, no entanto, é que a ação policial ajudou no tratamento dos viciados, por retirar o tráfico do local.
“A ação é da polícia, é do Estado e a decisão foi deles”, disse o secretário de governo, Julio Semeghini. “O que houve foi essa ação, que foi totalmente diferente do nosso projeto, mas que está permitindo, obrigando que a a gente implante mais correndo, mais rápido as nossas ações, mas por outro lado está sendo muito melhor, porque antes a gente não conseguíamos ter acesso”.
Procurado no começo da tarde pela reportagem, o Estado ainda não se manifestou sobre as afirmações de Pollara.
BRONCA
As afirmações dos secretários foram feitas em entrevista coletiva chamada por Doria para anunciar doação de cobertores da iniciativa privada aos moradores de rua.
Na entrevista, Doria admitiu que pode haver “alguns erros e ajustes necessários” na ação na cracolândia. “Os acertos e os erros são de todos. Nós fazemos uma ação conjunta”, disse o tucano.
O prefeito afirmou também que, a partir de agora, as ações do programa serão avaliadas diariamente por dois grupos, para corrigir eventuais problemas com mais facilidade.
Doria se exaltou com um repórter da TV Record, que questionou o prefeito sobre nota da Associação de Juízes para a Democracia, que repudiou o que chama de política “higienista e de extermínio”. “Tá cheio de associações provenientes de grupos ideológicos. Você acha que isso merece uma pergunta pública num ambiente de coletiva de imprensa. Me perdoe, você como um jornalista, um repórter, você tem que ter discernimento”, disse.