GUILHERME GENESTRETI, ENVIADO ESPECIAL*
CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Quatro dias após o ataque terrorista em Manchester, na última segunda (22) o diretor Fatih Akin trouxe as tensões multiculturais da Europa ao Festival de Cannes com “In The Fade”, filme que tem como premissa um atentado a bomba em Hamburgo.
O longa foi exibido nesta sexta (26) na mostra cinematográfica acrescentando temperatura política que até então tinha sido tratada apenas pelas produções do Leste Europeu. Tratando de terrorismo, “In The Fade” apela diretamente para os europeus ocidentais.
Diane Kruger (“Bastardos Inglórios”) é Katja, mulher alemã casada com um ex-presidiário de origem turca, com quem tem um filho de seis anos. Quando o marido e o filho são mortos numa explosão acusada por uma dupla de neonazistas, Katja é impelida a se vingar.
“O cinema me dá a possibilidade de dialogar com meus pesadelos”, disse Akin na entrevista coletiva. Alemão de origem turca, o cineasta de “Do Outro Lado” (2007) e “Soul Kitchen” (2009) está acostumado a tratar dos embates com imigrantes na Europa.
O pesadelo a que ele se especificamente tem a ver com o NSU, grupo alemão de orientação neonazista que cometeu uma série de assassinatos de imigrantes no começo dos anos 2000.
“O escândalo não foi o tanto de mortes que causaram”, afirmou Akin. “Mas sim que por anos a imprensa, a sociedade alemã e a polícia achavam que os ataques haviam sido cometidos por turcos. E que se eram turcos, devia ter algo a ver com drogas.”
A questão da dúvida quanto à autoria do atentado aparece no começo do longa. “Sou filho da globalização. Mas a globalização faz as pessoas terem medo do outro”, disse o cineasta.
Ele também falou da coincidência de exibir o longa poucos dias após o atentado na Inglaterra. “Vivemos dias de guerra. Mas de uma guerra que não é tradicional, uma globalizada. Na superfície meus filmes refletem o que há no mundo. Estou cercado de guerra.”
Kruger foi ovacionada pelos jornalistas ao chegar para a entrevista coletiva e se tornou uma das favoritas ao prêmio de melhor atriz. “Esse papel me deu medo no começo”, disse. “Hoje sabemos de muitas histórias sobre vítimas de ataques. Como é possível viver com um horror como esse?”
Alguns anos atrás, o nome de Fatih Akin apareceu numa lista de alvos de um site xenofóbico chamado Nuremberg 2.0. O diretor disse que isso é motivo de orgulho e um combustível criativo. “A raiva é um presente para o artista.”
*O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes.