MARIANA ZYLBERKAN
SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – A estátua imponente em homenagem a Duque de Caxias, em cima de seu cavalo a 48 metros de altura, faz da praça Princesa Isabel um marco importante para os militares na região central de São Paulo. Por isso, a ocupação do local por usuários de drogas nesta semana é motivo de preocupação e lamentação.
Revitalizada no ano passado por entidade ligada às Forças Armadas e com apoio da iniciativa privada, a praça deve passar por nova reforma assim que os usuários deixarem o local -eles estão lá desde a ação policial na antiga cracolândia, a 400 metros dali.
“Assim que todos forem internados, recebidos, cuidados”, diz o empresário Marcos Arbaitman, 78, presidente da Fundação Cultural Exército Brasileiro, que organizou as obras no local.
Presidente da Maringá Turismo, Arbaitman acumula ainda a coordenação do Conselho de Gestão do Turismo da Prefeitura de São Paulo.
Ele é amigo do prefeito João Doria (PSDB), para quem ofereceu jantar em sua homenagem em junho do ano passado, e diz que o tucano vai corrigir o erros desta semana e dar um rumo correto ao programa para a cracolândia.
“O mais importante é fazer e não errar por omissão. Quem faz corre o risco de cometer erros e corrigi-los, como acredito que o Doria esteja fazendo. Ele está corrigindo e vendo o que pode fazer.”

Pergunta: Quais são os planos para a praça Princesa Isabel após essa ocupação?
Marcos Arbaitman: No ano passado, revitalizamos a praça com o apoio da empresa Porto Seguro. Foi toda arrumada e, no dia 25 de agosto, foi celebrado lá o Dia do Soldado. Agora, com este problema [presença de usuários], assim que for resolvido e todos eles forem internados, recebidos, cuidados, então a gente vai revitalizar a praça novamente e ajardinar completamente. As pessoas estragaram o jardim, pisotearam.
Vamos ter que esperar a prefeitura trabalhar. Eles estão tratando cada um daqueles dependentes para se recuperar. Espero que consigam levar todos [são cerca de 600]. Então, precisa tratar um por um, espero que consigam. Toda cidade está torcendo.
P: O sr. falou com o prefeito sobre essa ação na cracolândia?
M.A.: Falei antes, em janeiro ou fevereiro, porque presido a [associação de bairro] Ame Jardins, que o Doria criou há uns dez anos, ele sempre está interessado em saber o que estamos fazendo. Então, contei a ele que, no ano passado, nós reformulamos toda a praça, arrumamos. Ficou linda a praça e por muito tempo, até recentemente, era frequentada por crianças da vizinhança.
Agora, infelizmente, eles [dependentes] decidiram escolher justo a praça Princesa Isabel [para se instalar]. O Exército preza muito por esse espaço. Tão logo a prefeitura consiga absorver essas pessoas, da forma correta com tratamento médico, nós voltamos à praça imediatamente, recuperamos tudo, os jardins. A iluminação vai melhorar também. Vai voltar a ser uma praça para a cidade.
O que o cidadão quer é que volte a ser um lugar frequentado por todos na cidade. Como a ex-cracolândia também que espero que nunca mais volte ser [com era antes].
P: Por que o sr. acha que os usuários escolheram essa praça? Ela é próxima [400 m da outra cracolândia, no centro].
M.A.: Podiam ter escolhido qualquer outro lugar também, né? A Secretaria da Saúde vai ter que, com a ajuda do Estado, buscar um por um, mas pela lei não pode ser compulsório [a internação]. Tem que convencer a pessoa que ela possa se recuperar e voltar a ser um ser humano. Porque está se destruindo desse jeito.
P: O sr. é a favor da ideia da prefeitura de internar as pessoas compulsoriamente?
M.A.: Compulsoriamente não adianta, porque vão acabar fugindo. Tem que ser por convencimento. Eles têm que ver que um outro colega foi [internado], se recuperou e voltou a ser um cidadão. Caso não queira isso, aí fica muito difícil. É um trabalho enorme, não vai ser da noite para o dia nem vai ser uma varinha mágica nem do João Doria nem de ninguém que vai resolver isso. Vai ser com muito trabalho, mas tem que ser feito.
Não pode virar as costas para isso como tem sido feito nos últimos 20 anos. Os cidadãos esperam que todo aquele local, da praça Princesa Isabel até a estação da Luz, vire um centro cultural, vire algo parecido com o Lincoln Center, com arte, música, e a população possa usufruir.
P: Qual sua opinião sobre a ação policial no último domingo?
M.A.: Não fazer nada, podia ser melhor, aí ninguém criticaria nem teria reportagens. Claro que gostaríamos que fosse estruturado, com cuidado. O mais importante é fazer e não errar por omissão. Quem faz corre o risco de cometer erros e corrigi-los, como acredito que o Doria esteja fazendo. Ele está corrigindo e vendo o que pode fazer. O secretário [estadual] da Segurança tem que cuidar de 645 municípios. Será que nós faríamos melhor do que ele? Eu acho que não.
P: Como a ocupação da praça está sendo vista pelo Exército?
M.A.: Como cidadãos de São Paulo, nós todos lamentamos. Nosso general Cid [Mauro César Cid Lourena] claro que lamenta porque ele ajudou muito a recuperar a praça.
Ver agora a praça invadida, precisamos ajudar a tirar. Não adianta só lamentar, precisa fazer alguma positiva. Vamos ajudar no que puder a cidade.
P: Há alguma ação prevista do Exército na praça?
M.A.: Não vai precisar. Porque ali é só recuperação. A hora que resolver, que levar essas pessoas para tratamento, imediatamente vai começar a reforma da praça. Vai ficar mais bonita do que era antes.