TALITA FERNANDES BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez aceno ao governo nesta segunda-feira (29) ao criticar a Lava Jato e elogiar a troca ministerial promovida pelo presidente Michel Temer no domingo. O gesto acontece na véspera de a bancada do PMDB analisar a permanência de Renan na liderança do partido. Diante das críticas que o alagoano vem fazendo ao Palácio do Planalto, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ameaça tirá-lo do posto. Ele convocou uma reunião da bancada peemedebista para a tarde desta terça-feira (30). Renan defendeu a substituição de Osmar Serraglio, a quem vinha desferindo críticas, por Torquato Jardim no Ministério da Justiça. Segundo ele, o Palácio escolheu um auxiliar “digno do nome que pode exercer, neste momento difícil, o papel de interlocução na vida nacional”, disse. “Um ministro que cobre dos Poderes que eles sejam leais à Constituição Federal.” A atitude de Renan em relação ao Planalto começou a mudar em março, logo após Temer ter escolhido Serraglio para substituir Alexandre de Moraes na Justiça. O cargo ficou vago depois da confirmação de Moraes como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), em substituição a Teori Zavascki. A troca do comando do Ministério da Justiça foi vista como uma sinalização de Temer a Renan, crítico do ex-titular da pasta. Nesta segunda, em sinal de solidariedade a Temer, o peemedebista fez ainda duras críticas à Lava Jato, especialmente à colaboração firmada pelos irmãos Batista, da J&F, com o Ministério Público. Alvo de mais de dez inquéritos no STF, o senador disse que os acordos de delação que vêm sendo fechados não estão de acordo com a legislação e defendeu mudanças, afirmando que “excessos precisam ser corrigidos”. “Essas não são as delações que o Legislador queria.” Temer é um dos principais alvos de Joesley Batista, um dos donos da J&F e colaborador das investigações junto ao Ministério Público Federal. O empresário gravou um diálogo que teve com Temer no início de março que sugere apoio do presidente nas tentativas de frear investigações que pesavam contra si. De forma complementar à gravação, o delator disse ainda que Temer “comprou” o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Renan também agradeceu a Temer por ter ido no fim de semana ao seu Estado, Alagoas, governado pelo seu filho, Renan Filho. No domingo (28) o presidente sobrevoou o Estado, onde mais de 1.000 famílias foram desalojadas pelas chuvas. Renan classificou a visita como “significativa” e disse que o gesto terá um “desdobramento satisfatório para corrigir injustiças contra o povo alagoano”. Sobre uma possível destituição do cargo de líder do PMDB no Senado, Renan desconversou. “Nessa altura da minha vida, o que eu posso temer?” Embora venha fazendo críticas à reforma trabalhista, o líder do PMDB descartou alterar os integrantes do PMDB na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), manobra que poderia impor uma derrota ao governo. Auxiliares de Temer vão observar o comportamento de Renan na votação da reforma trabalhista nesta semana. Parte da equipe presidencial defende a destituição do senador da liderança.