O presidente Donald Trump, considerado o maior inimigo de si próprio, tuitou hoje à tarde:??”So good to see the Saudi Arabia visit with the King and 50 countries already paying off. They said they would take a hard line on funding extremism, and all reference was pointing to Qatar. Perhaps this will be the beginning of the end to the horror of terrorism!”?Em tradução livre: Em função dessas desastradas palavras, os iranianos lembraram que são o primeiro efeito da Dança das Espadas de Trump com os sauditas em Riad.
O resultado é a tremenda crise desatada ontem quando, estimulados por Trump ou tirando proveito de sua agressiva infantilidade, a Arábia Saudita partiu para cima do Catar na sua eterna tentativa de ferir o Irã. Simultaneamente A. Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Bahrain, Egito, mais os governos que parcialmente comandam Líbia e Yemen, suspenderam relações com o Catar, acusando-o de apoiar o terrorismo. Logo depois uniram-se ao grupo as Ilhas Maldivas (no Oceano Índico), Jordânia e Mauritânia. A acusação que não é nova (de que o Catar abraça múltiplos grupos sectários como a Irmandade Muçulmana, o Estado Islâmico e a Al-Qaeda), agora sustentou-se num suposto email com referência favoável ao Irã que, segundo a agência noticiosa oficial saudita ?SPA teria sido enviado pelo Emir catariano Sheik Tamin Bin Hamad al-Thani, o qual, em seguida, acusou um hacker, negando a autoria da mensagem.
Como providência imediata, foram cortadas rotas aéreas, marítimas e terrestres impedindo o acesso ao e do Catar ao mundo externo. Cidadãos catarianos residentes nos (até aqui) oito países foram notificados que deveriam retornar ao Catar em duas semanas, com o pessoal diplomático recebendo apenas dois dias de prazo. Enquanto isso, os super mercados catarianos ficaram lotados de clientes desesperados por encher suas despensas comprando, por precaução, tudo o que estava à venda.
A situação no Golfo Pérsico é confusa?e não há santos nessa história. A A. Saudita é sempre lembrada como o santuário para o terror que foi o responsável pelos ataques do 11 de setembro às torres gêmeas; ?o pequenino Catar que tem o segundo maior PIB per capita do planeta (só perde para o ainda mais diminuto Liechtenstein) graças a suas imensas reservas de petróleo e de gás natural, desde a independência em 1971 é governado pela família al-Thani e mantém um exército de apenas 11.800 homens, mas alberga a Base Aérea?Al-Udeid?operada pela Força Aérea dos Estados Unidos – que ai mantém 10 mil?mariners?- e do Reino Unido. O governo norte-americano já informou que os vôos diários de ataque ao Iraque, Síria e Afeganistão que decolam diariamente de?Al-Udeid?estão plenamente mantidos e seu comando militar reiterou agradecimentos ao governo de Doha por permitir as ações tanto de suas forças quanto a dos países amigos que participam da frente contra o Estado Islâmico. O ódio dos egípcios originou-se do apoio catariano ao governo da Irmandade Muçulmana, derrubado pelo atual ditador Al-Sissi. Aguarda-se por um posicionamento do rico Conselho de Cooperação do Golfo, constituído por Arábia Saudita, EAU, Bahrain, Oman, Kuwait e Catar, onde costuma haver uma subterrânea divisão política entre os dois primeiros e os quatro últimos. Mesmo assim, o Bahrain suspendeu as relações diplomáticas com seu vizinho alegando a necessidade de “preservar a segurança nacional”. É preciso lembrar, ainda, que a Copa do Mundo de 2022 deverá ser hospedada por Doha.

Vitor Gomes Pinto – Escritor. Analista internacional.