JULIANA GRAGNANI E MARIANA ZYLBERKAN SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Havia ali uma mulher muçulmana à espreita, curiosa com o que via: milhares de pessoas com pinturas coloridas no rosto, chifres de unicórnio na cabeça, bandeiras nas costas. Empolgados com as atrações da 21ª Parada de Orgulho LGBT em São Paulo, jovens lotaram a avenida Paulista neste domingo (18), em um evento sem a presença do prefeito João Doria (PSDB) e com gritos de “Fora, Temer”. Para os frequentadores da festa, que neste ano teve como tema a defesa do Estado laico, a impressão era de que essa parada estava maior que as anteriores.

A organização do evento, que estimava a presença de 3 milhões de pessoas, não divulgou cálculo após o término; tampouco o fez a Polícia Militar. Em 2012, a organização divulgou estimativa de 4 milhões de pessoas. Já pesquisa Datafolha aferiu a presença de cerca de 270 mil.

Neste domingo, o público disputava os panfletos “LGBT sem Temer” distribuídos na avenida. Quando houve silêncio, após o término de um trio na praça Roosevelt, o grito pedindo a saída do presidente surgiu espontaneamente. Representado pelo vice Bruno Covas, Doria não compareceu, estava em Porto Rico para comemorar os 15 anos da filha. Sua ausência foi compreendida, disseram os organizadores da parada, para quem não houve constrangimento.”Não é todo dia que a filha faz 15 anos”, diz Nelson Matias, da organização. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) também deixou de ir em uma edição da parada, a última de seu mandato, em 2016, após ter reduzido o repasse ao evento. O valor deste ano,R$ 1,5 milhão, é o mesmo do ano passado.

TRIOS

“Onde está o trio da Anitta? E o da Daniela Mercury?”, eram as perguntas mais ouvidas na tarde deste domingo (18) em meio à muvuca que dominou a rua da Consolação e a avenida Paulista -em alguns momentos, lotadas simultaneamente. A carioca fez show-relâmpago de cerca de 20 minutos, desculpando-se por ter de ir embora. “Foi uma palhinha mesmo, pessoal”, disse. Segundo a organização, ela tinha que pegar um voo às 16h30.

Mais cedo, no Twitter, Anitta já havia adiantado que sua participação seria rápida, afirmando que a divulgação não havia sido clara. Sua presença foi um ímã para muitos dos jovens descolados e fashionistas que desfilaram o orgulho gay, lésbico, bissexual, transexual, travesti e queer pela primeira vez. Outros justificaram sua presença como fruto da tolerância cada vez maior de uma camada da sociedade.

Uma adolescente, de 17 anos, heterossexual, afirmava que estava lá mesmo tendo chocado sua mãe, e que queria que ela soubesse que está crescendo sem preconceitos. Ela e uma amiga, de 16, lésbica, saíram da zona leste de São Paulo para participar da parada pela primeira vez. Para a mais nova, a estreia na avenida Paulista foi uma chance para se sentir bem com sua orientação sexual, sem precisar se esconder. Para Leonardo, 20, “é um erro falar que a sociedade está mudando tanto assim, até porque vemos políticos conservadores com milhares de seguidores”. Ele palpita: “Dentro da comunidade LGBT, quem não se permitia tanto se sente mais à vontade agora. E houve mais divulgação da parada esse ano, com a participação das marcas”.

Algumas patrocinaram trios e outras coloriram a embalagem de seus produtos. Lotada até à noite, a parada teve seus frequentadores dispersos pelas ruas Augusta, Consolação e pela praça Roosevelt, alongando a festa em pé, bebidas em mãos. A dispersão oficial, porém, foi no Anhangabaú. Como no Carnaval, frequentadores urinavam na rua. Acompanhado de sua mulher, o professor de karatê Alex de Castro, 36, reclamou da falta de banheiros. À tarde, uma cena chamava atenção: com um hijab vermelho cobrindo os cabelos, a síria Rasha Al Kardajy, 28, observava a multidão vibrante na avenida Paulista. “Não sabia que eram tantos!”, disse, sorrindo. “É legal estar aqui e apoiar a diversidade.”