ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, ENVIADA ESPECIAL
XANGAI, CHINA (FOLHAPRESS) – João Doria (PSDB) apelou à paixão chinesa pelo futebol brasileiro para vender seu programa de desestatização ao vice-prefeito de Xangai, Chen Yin, que o recebeu em visita oficial nesta quarta-feira (26), num hotel de sua cidade.
Prato do dia: o Pacaembu.
Foi o estádio, lembrou o prefeito de São Paulo, “que consagrou Pelé”. E poderia passar para mãos chinesas, dentro de um programa de concessão que entregaria sua administração à iniciativa privada por pelo menos 15 anos.
O tucano ainda precisa do aval dos vereadores paulistanos para levar adiante o que na semana passada definiu como “o maior projeto de privatização urbana de todos os tempos”, em entrevista à uma agência de notícias do governo chinês. A proposta avança e já foi aprovada em primeiro turno na Câmara Municipal.
Doria convidou Yin, que retribuirá a passagem do brasileiro por Xangai indo a São Paulo no mês que vem, para conhecer o estágio e o Museu do Futebol, que fica dentro dele.
Aí quem sabe, afirmou, poderá sair “um gol da China e do Brasil. Nesta partida, os dois times serão sempre vitoriosos”.
Se em viagem à Coreia do Sul sugeriu rebatizar o bairro de Bom Retiro (que incorporaria Little Seul ao nome) para seduzir investidores locais, o tucano disse que não abrirá mão da nomenclatura do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho -mais conhecido como Pacaembu.
Segundo Doria, o “naming rights” (direito de nome) não está em jogo e tampouco a finalidade esportiva do complexo -o que barraria eventos religiosos e musicais, fonte de renda que tornaria o Pacaembu mais atraente para a iniciativa privada.
A concessão é vista com ressalvas pelos moradores do entorno, receosos com o aumento dos transtornos na região.
Doria evocou a popularidade do futebol verde-amarelo entre os conterrâneos do vice-prefeito de Xangai. O ex-técnico da seleção brasileira Felipão, por exemplo, treina o time local Guangzhou Evergrande.
BANCO DOS BRICS
A privatização de São Paulo foi pauta de reunião de Doria com o banqueiro indiano KV Kamath, presidente do New Development Bank, também chamado de Banco dos Brics (cada país do bloco de emergentes detém 20% das operações: África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia).
Vice-presidente da instituição, o economista brasileiro Paulo Nogueira Batista não estava. Ele foi indicado ao cargo pelo governo petista de Dilma Rousseff.
O economista era voz crítica às privatizações tocadas na gestão FHC e, em 1999, escreveu na Folha de S.Paulo sobre o pleito de cinco antes antes: “Preocupado com a ameaça que um governo Fernando Henrique Cardoso poderia representar para a soberania do país, participei intensamente (até demais) do debate econômico na campanha do Lula”.
Crítico contumaz daqueles que chama de “petralhas”, Doria disse que não vê Batista como potencial empecilho ao seu apelo para “vender São Paulo” ao banco.
O prefeito recordou que os dois foram colegas no governo Sarney, quando Doria presidiu a Embratur, e o economista trabalhou nos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Para o tucano, Batista não fará oposição à sua agenda. “Não vejo razão para ele ser contrário àquilo que representa o óbvio”, disse sobre as benesses que, segundo ele, decorrerão das privatizações.
No encontro de quarta (26), a diretoria do Banco dos Brics se disse aberta a “avaliar cada uma das possibilidades”.
TIETÊ CHINÊS
O prefeito, que no sábado (29) fechará tour de uma semana na China a convite do governo local, também foi a um museu dedicado a contar a história da despoluição do principal rio de Xangai.
O nome do rio soa irônico a ouvidos brasileiros: Suzhou (a pronúncia em português remete a “sujou”).
As águas que se estendem por 125 km eram “fedorentas como cocô”, explicou uma guia para Doria.
A recuperação do rio consumiu 20 anos (1988-2008) e R$ 7 bilhões.
A jornalistas o prefeito frisou que a responsabilidade pela há muito adiada revitalização dos rios Tietê e Pinheiros é do governo do Estado, sob guarda do aliado Geraldo Alckmin (PSDB).
“Eu, João, ele, Geraldo”, disse e prometeu em seguida que o lago do Ibirapuera, esse sim sob cuidado municipal, será despoluído até janeiro.