Se você já foi a uma das mais de 100 unidades de saúde de Curitiba, provavelmente encontrou mulheres esperando para realizar exames, crianças sendo vacinadas e alguns idosos que participam de programas para controle de Hipertensão e Diabetes. Homens, contudo, são quase uma raridade nesses locais, principalmente nas unidades de atenção básica.
Isso até não seria um problema, não fosse o fato que eles estão adoecendo e morrendo muito mais do que elas — no Brasil, por exemplo, a expectativa de vida entre as mulheres é de 79 anos, enquanto os homens vivem em média 72 anos.
Para tentar contornar essa situação, desde 2012 o governo do Paraná promove o Agosto Azul, uma espécie de primo do outubro rosa e que visa a promoção à saúde do homem. Para 2017, o tema escolhido é ‘Pai, seja presente!’, numa tentativa de incentivar eles a irem ao médico para realizar os exames de rotina e se vacinar, caso necessário.
Pesquisas recentes, inclusive, atentam para a questão e ressaltam a importância de iniciativas assim. No ano passado, um estudo feito pelo Ministério da Saúde com mais de 5 mil homens revelou que um terço deles não tem o hábito de ir ao médico.
Entre os entrevistados, 55% disseram que não vão porque não precisam.
Os homens não frequentam serviços da atenção básica, mas acabam procurando serviços de emergência, quando o estado de saúde já está muito avançado, ou quando já estão quase morrendo, aponta o Ministério no Guia de Saúde do Homem.
Em Curitiba, um outro estudo feito em 2014 revela um cenário parecido. Embora representem 48% da população da cidade, nos equipamentos de saúde pública só 36,75% dos 1,9 milhão de atendimentos realizados em sete meses envolviam pacientes do sexo masculino.
A proporção de atendimentos entre os sexos só se mantém equilibrada até os 10 anos, reduzindo-se na adolescência (15 a 19 anos) para 30% do total. Entre os 20 e 60 anos a proporção é de 32% de homens, enquanto entre os idosos chega a 35,12%.

Por que eles não vão ao médico?

Mas afinal, porque os homens não vão ao médico (ao menos não tanto quanto deveriam)? Segundo o Ministério da Saúde, é porque historicamente ele foi criado para ficar longe dos espaços de cuidado, citando ainda o ambiente de uma unidade de saúde, onde vemos cartazes com mães amamentando, crianças, bebês, decorações infantilizadas. A sociedade não educou o homem para ele se identificar com um lugar assim, consta no Guia de Saúde do Homem.
Em um estudo publicado anos atrás, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz chegaram a uma conclusão parecida. Segundo eles, o imaginário de ser homem pode aprisionar o masculino em amarras culturais, dificultando a adoção de práticas de autocuidado, pois à medida que o homem é visto como viril, invulnerável e forte, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia associá-lo à fraqueza, medo e insegurança.
Além disso, porém, outros pontos levantados foram o medo de se descobrir uma doença grave e a vergonha de expor o corpo perante o profissional de saúde.
Assim, não saber pode ser considerado um fator de proteção, escrevem Romeu Gomes, Elaine Ferreira do Nascimento e Fábio Carvalho de Araújo. Outra dificuldade para o acesso dos homens a esses serviços é a vergonha da exposição do seu corpo perante o profissional de saúde, particularmente a região anal, no caso da prevenção ao câncer de próstata.

Campanha tenta fazer despertar os futuros pais
A campanha deste ano do Agosto Azul é oportuna. Segundo o Ministério da Saúde, a maioria dos homens (80%) acompanha a parceira nas consultas de pré-natal. Contudo, 56% disseram que o atendimento teve foco apenas nas orientações para a gestante, e 84% não realizaram nenhum exame durante o pré-natal.
Aproveitando-se desse momento em que o homem está mais próximo do serviço, acompanhando a companheira no Pré-Natal, busca-se orientá-lo para que adote hábitos saudáveis e realize exames preventivos. Desde o ano passado, inclusive, profissionais do Paraná estão sendo capacitados para realizar esse atendimento.

Especialidades
Em Curitiba, as áreas em que os homens procuram mais os atendimentos de saúde do que as mulheres são o tratamento de HIV/Aids (70% homens), tuberculose (63,7%), leptospirose (78,6%), meningite (56,3%) e hanseníase (60%). Entre as doenças mais comuns que prejudicam a saúde do homem estão hipertensão, diabetes, câncer, obesidade, depressão e acidentes de trânsito e de trabalho além da violência. Os dados são de 2013.