GUILHERME SETO E PAULO GOMES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dois dias após a invasão do plenário da Câmara Municipal de São Paulo, manifestantes que protestavam contra as privatizações do prefeito João Doria (PSDB) e restrições ao passe estudantil saíram do local voluntariamente no começo da tarde desta sexta (11).
A desocupação ocorreu depois de a Justiça dar prazo de cinco dias para a saída e de negociações para que eles discursem para os vereadores na semana que vem.
A Câmara divulgou fotos que mostram cadeiras e mesas reviradas e extintores no chão após a desocupação dos cerca de 70 manifestantes –principalmente estudantes.
O presidente do Legislativo, Milton Leite (DEM), disse que houve alguns danos e que a perícia calculará prejuízos –que devem ser pequenos, segundo a assessoria da Câmara. “Os danos ao patrimônio público serão levados a termo, e a identificação deles cabe à polícia”, afirmou Leite.
Os manifestantes negaram atos de vandalismo. Dizem que, se houve algum dano, foi durante a ação policial, quando resistiram à tentativa inicial de retirá-los.
Participaram da invasão, dentre outros, representantes do Movimento Juntos, União Nacional dos Estudantes, DCE (Diretório Central de Estudantes) da USP e Passe Livre.
Entre as reivindicações, eles pedem que os projetos de privatizações e concessões da gestão Doria (incluindo de parques e cemitérios ao estádio do Pacaembu e autódromo de Interlagos) sejam levados a um plebiscito, com voto de todos os munícipes.
“Ele não pode vender os bens públicos que são seus, meus e de todos nós sem a nossa autorização. Isso é privatizar, colocar nas mãos de poucos os direitos que são de todos nós”, disseram os ativistas, em coro, nesta sexta.
Parte dos projetos foi aprovada em primeira votação em julho, e a intenção de Doria é que a aprovação definitiva na Casa ocorra até setembro.
Com a saída voluntária dos manifestantes, Leite assegurou que eles terão direito a uma fala de cinco minutos no plenário na terça-feira (15).
Na véspera, segunda (14), devem visitar os gabinetes dos vereadores para conversar sobre a possibilidade de um plebiscito ir à pauta.
Para Leite, a possibilidade é pequena. “Eles tentaram coletar assinaturas de 28 líderes [de um total de 55 vereadores] e não lograram êxito.”
Na quinta (10), a Justiça havia autorizado a reintegração de posse da Câmara apenas após prazo de cinco dias para a saída voluntária.
TENSÃO
A vereadora Juliana Cardoso (PT), que participava da negociação com os manifestantes, disse ter sido retirada à força do plenário por PMs.
“Como vereadora, esse é meu lugar de trabalho. Policiais militares me retiraram do plenário e me impediram de conversar com os meninos. Falei que só sairia se retirada à força, e cada policial me pegou de um lado.”
Segundo ela, que classificou a atitude como agressão, apenas vereadores homens têm sido autorizados por Leite a entrarem no plenário. “O Eduardo Suplicy (PT) entrou hoje, por exemplo”, afirmou.
Leite disse à imprensa que ninguém estava autorizado a entrar, e que Suplicy teve permissão depois de ser escolhido por ele como mediador.
Além do combate às privatizações, os manifestantes pedem a revogação de restrições impostas ao passe estudantil. O benefício sofreu corte de oito embarques em 24 horas para até quatro embarques num período de duas horas em duas vezes ao dia.