Há um mês, o autônomo Ezequias Moreira Lima, 48 anos, mudou a rotina pela manhã. Antes era acordar e, depois do café da manhã, ligar para os fregueses confirmando o horário do serviço geral do dia. Agora, depois da refeição matutina, Ezequias deixa sua casa, por volta da 7h30, rumo ao terreno ao lado. O telefone celular continua a postos para atender aos clientes, mas enxada, mangueira e muita disposição são os novos companheiros do autônomo. Ele é um dos 24 produtores urbanos responsáveis pela Horta Comunitária do Cajuru, inaugurada pelo prefeito Rafael Greca no dia 13 de julho e que tem o apoio do município.

Hortas comunitárias beneficiam 848 famílias em Curitiba

 

Novo programa da Prefeitura vai espalhar hortas comunitárias por Curitiba

Parceria entre a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Smab) e a concessionária de trens Rumo, a Horta Comunitária do Cajuru é a 24ª da cidade a ter o acompanhamento técnico dos engenheiros agrônomos da Prefeitura. São cerca de 100 pessoas beneficiadas, entre produtores e familiares da Comunidade Oficinas e da Vila Betel, com o cultivo para consumo próprio de hortaliças e temperos, além de frutas nativas como pitanga, limão e laranja.

Dentro de 15 dias, eles devem começar a colher. Já estamos ansiosos. É muito bonito ver as plantas crescendo. A gente está vindo todos os dias, de manhã e no fim da tarde, regar os pés, conta Ezequias, que está plantando para consumo da família e também para doar aos vizinhos. Orgulhoso do canteiro repleto de alface, couve, rúcula, almeirão, mostarda, escarola, salsinha e cebolinha, o autônomo garante que quem chegar ao local e pedir vai poder levar para casa parte do que for colhido. Tem pra todos, afirma o morador da Comunidade Oficinas.

Localizada ao longo da linha férrea que sai da sede da Rumo, a horta comunitária ocupa uma área de 1 mil metros quadrados. Com a Horta do Cajuru, estamos transformando um espaço improdutivo, em uma das regiões mais populosas da cidade, em uma área de cultivo de alimentos saudáveis, frisa o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, Luiz Gusi. Ele reforça ainda que a Smab, com o Programa de Agricultura Urbana, é responsável pela assistência técnica, apoio organizacional das comunidades e, inicialmente, fornecimento de mudas e insumos.

Para o autônomo Manoel Alves da Silva, 48 anos, o cultivo de seu canteiro na horta do Cajuru vai ser uma boa oportunidade de melhorar a qualidade da alimentação da família e também reduzir os gastos com hortaliças e até ajudar os moradores da região. Vou produzir para mim e meus filhos, mas quero dar para os vizinhos e para instituições de caridade do bairro, garante ele, que mora na Comunidade Oficinas. De seu canteiro serão colhidos, nas próximas semanas, pés de alface, rúcula e mostarda.

Morador da Vila Betel, o pedreiro Antônio Almeida da Silva, 55 anos, sempre quis ter um canteiro com hortaliças. Lá em casa, somos em seis pessoas. Minha esposa só está esperando eu levar o alface, a cebolinha e o almeirão que estou plantando, revela o pedreiro, que diariamente percorre seu canteiro de hortaliças, regando e conferindo o crescimento da plantas.

Quem não vê a hora de começar a preparar saladas com a rúcula, a alface e o radiche, cultivados por ela própria, é a dona de casa Geny Fermino, 54 anos, moradora da Comunidade Oficinas. Lá em casa sou só eu e meu marido, Laércio. Assim, vou ter que dividir com os vizinhos, prevê a dona de casa, que toda manhã também molha os pés de hortigranjeiros sob sua responsabilidade.

Dormentes e feira

A parceria entre a Prefeitura e a Rumo inspirou vários detalhes curiosos e que dão um charme extra à Horta Comunitária do Cajuru. Os entulhos de lixo, que existiam antes da implantação do espaço de cultivo, deram lugar a canteiros de hortaliças cercados por dormentes de trilhos, que servem como contenção de terra e que também viraram as colunas da cerca que circunda todo o local. Já no centro da horta, carretéis gigantes de madeira, usados originalmente para armazenar cabos de locomotivas e trens, agora fazem às vezes de mesas para separação de mudas e insumos.

Segundo Carmen Maron, coordenadora de Relações Sociais da Rumo, nas próximas semanas também serão criadas pequenas hortas em barris para que moradores idosos também possam participar do cultivo. Como eles não podem se abaixar para plantar e colher, fomos pesquisar hortas suspensas e descobrimos que dá para plantar ervas em barris. Assim, os idosos não precisam comprometer a coluna, justifica ela.

Até o fim do ano, antecipa Carmen, também devem ser inauguradas duas pequenas feiras no bairro para a venda dos alimentos excedentes da horta, uma na entrada do local e outra na sede da Rumo.

 

A Prefeitura de Curitiba mantém o Programa Hortas Comunitárias desde 1986 e, com a inauguração da Horta Comunitária do Cajuru, passa a dar apoio a 24 áreas cultivadas por produtores urbanos, que beneficiam 872 famílias e se espalham por 428 mil metros quadrados sob linhões de energia, terrenos públicos e áreas da iniciativa privada, como a da Rumo.

As hortas também estão localizadas nos bairros Sítio Cercado (Regional Bairro Novo); Tatuquara e Campo do Santana (Regional Tatuquara); e Cidade Industrial (Regional CIC).

Para poder participar de uma das hortas comunitárias, o interessado deve procurar a associação de moradores ou o coordenador da horta comunitária, que vai ter uma lista de espera e chamar o interessado quando houver vagas disponíveis. Pedimos que seja morador da região, porque exige cuidado diário, tem de zelar pela horta, salienta Rodolfo Brasil Queiroz, engenheiro agrônomo e chefe da Unidade de Agricultura Urbana da Smab.

Ele lembra que ainda que as hortas comunitárias têm um papel que vai além do cultivo de frutas e hortaliças saudáveis para consumo próprio. Também é uma atividade terapêutica, de relaxamento e de convívio social, pois muitos são aposentados. Pode gerar ainda renda extra com a venda de excedentes, economia na compra desses produtos e até alguns outros benefícios, como educação ambiental e educação alimentar, complementa Queiroz.