ARTUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A gestão do prefeito João Doria (PSDB) demitiu a controladora-geral do município para colocar no cargo um nome mais alinhado com a atual administração tucana.
A controladora demitida, Laura Mendes Amando de Barros, é servidora de carreira e já trabalhava no órgão durante a gestão de Fernando Haddad (PT). Atualmente, ela investigava um esquema no qual servidores cobravam propina para fazer vista grossa a propaganda irregular nas ruas da cidade.
O secretário municipal de Justiça, Anderson Pomini, afirmou que a ideia é colocar membros que atendam “às diretrizes desta gestão”.
“Passado oito meses, a gestão entendeu por bem atualizar e incorporar membros da gestão a esta equipe [da controladoria]”, disse.
O escolhido para a chefia da Controladoria foi Guilherme Rodrigues Monteiro Mendes, que ocupava até então o cargo de ouvidor-geral do município. Antes disso, ele atuou por 12 anos na Secretaria de Controle Interno do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo.
Assim que assumiu a prefeitura, em janeiro, Doria rebaixou a Controladoria, que perdeu status de secretaria e passou a ser vinculada à pasta de Justiça. Com isso, o órgão que antes respondia apenas ao prefeito passou a ser subordinado a Pomini.
A escolha de Laura para chefiar o órgão, no entanto, havia trazido à época um certo alívio aos funcionários concursados da pasta.
Procuradora da prefeitura, ela estava na CGM desde sua criação, em 2013. Naquele ano, o órgão revelou um dos maiores esquemas criminosos da história recente da cidade, a máfia do ISS –em que fiscais do município cobravam propina em troca de descontos no imposto de obras de grandes empreendimentos.
Atualmente, Laura investigava quadrilha de servidores que cobravam propina para fazer vistas grossas a anúncios irregulares de empreendimentos imobiliários e feirões de carros, burlando a Lei Cidade Limpa.
Revelada pela rádio CBN, a chamada máfia da Cidade Limpa atingiu a pasta de Prefeituras Regionais. O então chefe de gabinete da prefeitura regional da Lapa (zona oeste), Leandro Benko, foi gravado durante suposta negociação de propina.
Ele é irmão do secretário de Turismo do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Laércio Benko (PHS). Leandro Benko pediu demissão e outros cinco servidores foram afastados pela gestão municipal.
Quase duas dezenas de pessoas já haviam sido ouvidas na investigação do caso. Além disso, a Controladoria atuava no levantamento patrimonial dos funcionários envolvidos no esquema.
Na Controladoria, o bastidor é que o caso pode crescer, e a gestão Doria optou trocar Laura por alguém sobre o qual pudesse ter maior controle. Por isso, alguns funcionários da CGM estariam dispostos a colocar cargos à disposição.
A mudança também pegou mal dentro do Ministério Público do Estado, órgão que tem atuado em operações conjuntas com a Controladoria. Na visão de promotores, a troca da chefe do órgão indicaria a perda de sua autonomia.
Em nota, a prefeitura afirma que “todos os processos e investigações abertos durante esse período terão continuidade, garantindo a independência da Controladoria conforme determina a legislação”. A gestão também afirma “agradece os bons resultados obtidos por ela [Laura]”.
Laura voltará à Procuradoria. Em nota, diz estar “absolutamente tranquila” com seu trabalho. Como exemplo, cita ações em sua gestão geraram R$ 6 milhões em economia ao município, entre outras.