ARTHUR RODRIGUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) acusou nesta sexta-feira (18) a gestão João Doria (PSDB) de estar desmontando a CGM (Controladoria Geral do Município).
O ataque ocorreu após Doria demitir a controladora Laura Mendes Amando de Barros, uma servidora de carreira, para colocar um aliado no posto. Em um texto intitulado “O fim da Controladoria Geral do Município”, Haddad afirma numa rede social que “estamos retrocedendo” e lembrou a criação do órgão em sua gestão (2013-2016).
“Esse órgão está sendo desmontado. Num primeiro movimento, retiraram dele o status de secretaria diretamente ligada ao gabinete do prefeito. E, agora, demitem um quadro técnico para nomear um aliado, retirando-lhe a autonomia”, escreveu Haddad.
Este foi o maior ataque de Haddad à gestão João Doria. Até o momento, o ex-prefeito vinha mantendo uma postura mais diplomática, apenas respondendo às críticas da equipe de Doria à sua gestão.
A crítica feita por Haddad, dessa vez sem ser provocado, ocorre no momento em que ele é visto como um plano B do PT, no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser impedido pela Justiça de concorrer à presidência em 2018.
INVESTIGAÇÃO
A controladora demitida investigava um esquema no qual servidores cobravam propina para fazer vista grossa a propaganda irregular nas ruas da cidade. O secretário municipal de Justiça, Anderson Pomini, afirmou que a ideia é colocar membros que atendam “às diretrizes desta gestão”. “Passado oito meses, a gestão entendeu por bem atualizar e incorporar membros da gestão a esta equipe [da controladoria]”, disse.
O escolhido para a chefia da Controladoria foi Guilherme Rodrigues Monteiro Mendes, que ocupava até então o cargo de ouvidor-geral do município. Antes disso, ele atuou por 12 anos na Secretaria de Controle Interno do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo.
REBAIXAMENTO
Assim que assumiu a prefeitura, em janeiro, Doria rebaixou a Controladoria, que perdeu status de secretaria e passou a ser vinculada à pasta de Justiça. Com isso, o órgão que antes respondia apenas ao prefeito passou a ser subordinado a Pomini.
A escolha de Laura para chefiar o órgão, no entanto, havia trazido à época um certo alívio aos funcionários concursados da pasta.
Procuradora da prefeitura, ela estava na CGM desde sua criação, em 2013. Naquele ano, o órgão revelou um dos maiores esquemas criminosos da história recente da cidade, a máfia do ISS, em que fiscais do município cobravam propina em troca de descontos no imposto de obras de grandes empreendimentos.
CIDADE LIMPA
Atualmente, Laura investigava quadrilha de servidores que cobravam propina para fazer vistas grossas a anúncios irregulares de empreendimentos imobiliários e feirões de carros, burlando a Lei Cidade Limpa.
Revelada pela rádio CBN, a chamada máfia da Cidade Limpa atingiu a pasta de Prefeituras Regionais. O então chefe de gabinete da prefeitura regional da Lapa (zona oeste), Leandro Benko, foi gravado durante suposta negociação de propina.
Ele é irmão do secretário de Turismo do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Laércio Benko (PHS). Leandro Benko pediu demissão e outros cinco servidores foram afastados pela gestão municipal. Quase duas dezenas de pessoas já haviam sido ouvidas na investigação do caso.
Na Controladoria, o bastidor é de que o caso pode crescer, e a gestão Doria optou trocar Laura por alguém sobre o qual pudesse ter maior controle. Por isso, alguns funcionários da CGM estariam dispostos a colocar os cargos à disposição.
A mudança também pegou mal dentro do Ministério Público do Estado, órgão que tem atuado em operações conjuntas com a Controladoria. Na visão de promotores, a troca da chefe do órgão indicaria a perda de sua autonomia.
Em nota, a prefeitura afirma que “todos os processos e investigações abertos durante esse período terão continuidade, garantindo a independência da Controladoria conforme determina a legislação”. A gestão também diz que “agradece os bons resultados obtidos por ela [Laura]”.
Laura voltará à Procuradoria. Em nota, diz estar “absolutamente tranquila” com seu trabalho. Como exemplo, citou que ações em sua gestão geraram R$ 6 milhões em economia ao município, entre outras medidas.