ANAÏS FERNANDES SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo chinês abriu nesta sexta-feira (18) uma investigação antidumping sobre as importações de carne de frango do Brasil, após reclamação da indústria doméstica de que o país está vendendo seu produto abaixo do valor de mercado. O Brasil é o maior exportador global do produto, e a China é seu terceiro principal mercado, perdendo apenas para a Arábia Saudita e o Japão.

O Ministério do Comércio chinês informou, em nota sobre a investigação publicada no site da pasta, que o Brasil respondeu por mais de 50% da oferta de frango para a China entre 2013 e 2016. O país substituiu os Estados Unidos como maior fornecedor de frango depois que a China adotou tarifas antidumping sobre os produtos dos EUA em 2010. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), de janeiro a julho deste ano, o Brasil exportou 226,5 mil toneladas de carne de frango para a China -principalmente extremidades, como asas e garras.

O valor representa 9,2% de todas as exportações brasileiras desse tipo. Francisco Turra, presidente da ABPA, confirmou que o Brasil recebeu a notificação e disse que o país tem 20 dias para responder aos questionamentos sobre a suposta prática de dumping. “Algumas questões ainda estão obscuras. Por exemplo, a petição cita empresas brasileiras que não exportam nem um quilo de carne de frango para a China”, afirma. Após receber a resposta, os chineses devem decidir se recorrem ou não à OMC (Organização Mundial do Comércio).

Mas Turra diz não acreditar que o fluxo de comércio será interrompido. “Não vemos com nenhum temor a situação e estamos preparados tecnicamente para responder.” Turra reforça que o Brasil não pratica dumping na exportação de frango “nem em relação à China, nem em relação a ninguém.” “O Brasil é um país competitivo, e isso, às vezes, leva a algumas confusões. Já tivemos processos da África do Sul e da Ucrânia e provamos que não havia dumping.”

Segundo ele, a larga produção brasileira de soja e milho permite a alimentação das aves a um preço menor do que em outros países. “Temos condições competitivas para não precisar praticar dumping.” De acordo com a agência Reuters, o tema vinha sendo aventado há meses, e não foi exatamente uma surpresa. Na quinta-feira, o governo chinês enviou à embaixada brasileira em Pequim a nota sobre a ação antes de publicá-la.

A agência diz ainda que o governo brasileiro havia sido avisado pela China em 10 de agosto que o país poderia abrir uma investigação antidumping. De acordo com Turra, o secretário de comércio exterior do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), Abrão Árabe Neto, pediu para o assunto ser incluído em uma reunião da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação) no início da próxima semana. “Temos interesse em manter a melhor relação possível com a China, e ela também tem, porque nós não temos gripe aviária”, diz Turra.