SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fazer uma refeição antes de beber ajuda a diminuir os efeitos do álcool? Por que algumas pessoas ficam bêbadas mais rápido? Qual o melhor remédio para a ressaca?
Disponível na Netflix desde o início de agosto, o programa especial da BBC “The Truth About Alcohol” (A verdade sobre o álcool) realiza testes e pesquisas com o objetivo de responder a algumas dessas perguntas. O vídeo também está na íntegra no YouTube.
O documentário, apresentado pelo médico Javid Abdelmoneim, começa abordando a divulgação pelo governo britânico de novas diretrizes para o consumo de álcool, anunciada no início de 2016. No país, o limite semanal para os homens baixou de 21 para 14 unidades de álcool, o equivalente a pouco menos de 3,5 litros de cerveja, recomendação que já era adotada para mulheres.
A principal motivação da mudança está ligada a descobertas científicas recentes, que sugerem uma conexão entre o consumo de álcool e o surgimento de câncer. “Isso fez muitos reavaliarem o quanto bebem. Mas, honestamente, algum dia achamos que o álcool era bom para a saúde?”, questiona Abdelmoneim.
A partir desse ponto, ele passa a investigar crenças e costumes ligados à ingestão de álcool. Um deles é o hábito de fazer uma refeição antes de beber, visando reduzir o nível de álcool no sangue.
Para isso, o médico ingere uma taça de vinho após um prato de comida. Uma amiga faz o mesmo, mas de estômago vazio. Nas duas horas e meia que se seguem, testes de bafômetro mostram que o nível de álcool no sangue de Abdelmoneim permanece constantemente abaixo do da amiga, até desaparecer por completo.
Isso acontece, segundo o documentário, porque o álcool só é absorvido pelo organismo quando chega ao intestino delgado. Se o estômago estiver cheio, ele fica mais tempo retido e demora para entrar no sistema. Além disso, enquanto o álcool fica estacionado, uma enzima presente no estômago ajuda a eliminar parte dele, que geralmente é processado apenas no fígado.
Em outro momento, Abdelmoneim comprova a crença de que beber vinho é bom para o coração. A bebida ajuda a dilatar os vasos sanguíneos, graças à presença de uma substância chamada polifenol. Isso não significa, no entanto, que é recomendável beber vinho com frequência, já que a substância também está presente em vários alimentos que trazem menos riscos à saúde, como o chocolate preto e nozes.
Um dos experimentos demonstra porque pessoas com menores quantidades de água no corpo tendem a ficar bêbadas mais rápido. Segundo a pesquisadora de álcool da Universidade Exeter Celia Morgan, o nível de bebedeira está diretamente ligado à concentração de álcool no sangue. Quanto mais água houver no organismo, mais ela ajuda a diluir os efeitos da bebida.
A especialista tira a prova da afirmação ao medir a quantidade de água no corpo de cinco pessoas, com diferentes níveis de tolerância à bebida. As menos resistentes ao álcool possuem menos água em seu corpo do que pessoas que aguentam vários copos antes de ficar bêbadas.
Em testes sobre como evitar os efeitos da ressaca, uma pílula feita com o óleo extraído da borragem –planta originária da Europa e Norte da África– se mostrou a solução mais eficaz. Metade dos testados não sofreu com a ressaca ao consumir o produto antes de beber.
Já uma alternativa popular no Reino Unido, o café da manhã britânico, que amenizaria os efeitos posteriores da ressaca devido à sua grande quantidade de açúcares, não funcionou bem. Apenas uma das cinco pessoas que passaram pelo teste disse não sentir mais os efeitos negativos da ressaca após o desjejum.
Entre outras características prejudiciais comprovadas pelos testes, o álcool também se mostrou responsável por reduzir a capacidade mental e motora, por elevar o apetite e atrapalhar a qualidade do sono.
Segundo o programa, porém, nem tudo ligado a bebidas alcoólicas é negativo. Há uma parcela da sociedade que ainda pode se beneficiar do consumo de álcool, como explica a professora Dame Sally Davies, autoridade médica do governo britânico.
“Se uma mulher de 55 anos ou mais beber até cinco unidades de álcool (cerca de 1,2 litro de cerveja) por semana, ela protege seu coração.” Mas Davies adverte: “Se beber mais do que isso, os efeitos benéficos dessa proteção já começam a se perder, até que desapareçam por completo.”