ISABEL FLECK
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu, na sigla em inglês), uma das mais influentes organizações em defesa dos direitos humanos nos EUA, se tornou alvo de críticas desde que defendeu o direito de grupos racistas se manifestarem no fim de semana passado em Charlottesville, na Virgínia.
Foram os advogados da Aclu, normalmente associada aos direitos das minorias, que conseguiram a autorização para que a marcha que terminou com uma morte no sábado (12) ocorresse.
A organização, que condenou a violência, manteve sua posição mesmo após o resultado trágico. O argumento era a defesa da primeira emenda da Constituição americana, que garante o direito à liberdade de expressão.
O debate sobre proibir ou não as próximas marchas de grupos de extrema direita se acirrou nos EUA após o ocorrido em Charlottesville, e uma manifestação pela liberdade de expressão em Boston, neste sábado (19), só foi autorizada por autoridades locais sob fortes restrições (nenhum manifestante poderá portar arma, pedaços de pau ou mochilas, por exemplo).
Outra marcha intitulada “vidas brancas importam”, marcada para 11 de setembro em College Station (Texas) e que teria a presença de Richard Spencer, um dos principais nomes do chamado “alt-right”, foi cancelada nesta semana pela Texas A&M University, que alegou “preocupação com a segurança”.
Após pressão, o diretor-executivo da Aclu, Anthony Romero, disse ao “Wall Street Journal” que a organização não defenderá mais o direito à manifestação de grupos de ódio que queiram marchar com armas de fogo.
“O ocorrido em Charlottesville exige que qualquer juiz, chefe de polícia ou organização legal vejam os protestos de supremacistas brancos com mais rigor”, disse.
A Aclu, contudo, seguirá defendendo o direito dos grupos racistas a falar.
“Acreditamos que a nossa democracia será melhor e mais forte se se envolver e ouvir opiniões divergentes. O racismo e o fanatismo não serão erradicados se os jogarmos para debaixo da terra”, defendeu Romero em comunicado.
Segundo ele, nem todo o discurso é “moralmente equivalente”, mas a contestação do valor do discurso de ódio “só pode acontecer se a troca de ideias estiver aberta”.
HISTÓRICO
Em 1977, a Aclu enfrentou polêmica ao defender o direito de manifestação de neonazistas em Skokie, subúrbio de Chicago onde grande parte da população era judia. Na época, muitos membros da Aclu deixaram a organização.
A professora de direito da Universidade de Miami Caroline Mala Corbin defende a posição da Aclu e ressalta que a Constituição prevê limites como a proibição da difamação e da incitação à violência. “A melhor justificativa para proteger a liberdade de expressão é que não confiamos que um governo possa decidir quem pode falar.”