ISABEL FLECK
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Desconfiança excessiva da imprensa e do governo, autoritarismo e desprezo por grupos considerados “menos evoluídos”. Esses foram alguns dos traços identificados por dois pesquisadores que mapearam nos últimos meses o perfil psicológico dos integrantes do chamado “alt-right”, ou direita alternativa, nos Estados Unidos.
O estudo foi publicado dois dias antes de líderes do “alt-right”, como Richard Spencer, um dos fundadores do movimento, se unirem em uma marcha da extrema direita, com a participação de neonazistas e membros da Ku Klux Klan em Charlottesville, na Virgínia, no último fim de semana. A manifestação terminou em uma morte.
No levantamento, os professores de psicologia Patrick Forscher, da Universidade do Arkansas, e Nour Kteily, da Universidade Northwestern entrevistaram 447 pessoas que se identificaram adeptos do “alt-right”, movimento que apoiou a eleição de Donald Trump e se mantém, em grande parte, simpático ao seu governo. As respostas foram comparadas às de um grupo de 382 voluntários que disseram não compartilhar as visões do movimento.
“Com base em nossos dados, os adeptos do ‘alt-right’ tendem a desumanizar os outros, são motivados a expressar visões negativas em relação aos negros e reportam assediar e ofender os outros intencionalmente”, disse Forscher à Folha de S.Paulo, classificando essas características como “motivo de preocupação”.
Ele, no entanto, ressalta que o movimento é descentralizado e, portanto, os limites de quem é ou não “alt-right” são “difusos”. “Por isso é difícil fazer declarações amplas e definitivas sobre o grupo que se aplique a todos os seus membros.”
Entre as características que puderam ser observadas, estão, além do autoritarismo e da desconfiança com o “mainstream”, uma maior presença de traços socialmente aversivos (maquiavelismo, narcisismo e psicopatia) e de agressividade, em comparação com o outro grupo.
Os entrevistados ainda foram conduzidos a posicionar, em uma escala de “evolução” humana, certos grupos ou pessoas. Brancos, americanos e homens ficaram no topo da escala dos adeptos do “alt-right”, que colocaram negros, árabes, feministas e a ex-candidata democrata Hillary Clinton com menos de 65 pontos numa escala de 0 a 100.
Trump ficou com uma média de quase 83 pontos, abaixo das mulheres, e acima dos republicanos em geral.
O principal aceno dado por ele ao “alt-right” havia sido a nomeação de Steve Bannon para estrategista-chefe da Casa Branca. Após Charlottesville, Bannon caiu na sexta (18), e agora voltará ao site Breitbart, para ser presidente-executivo de uma das principais plataformas do movimento.