Uma das coisas mais difíceis da vida adulta é fazer escolhas. Todas as vezes que escolhemos um caminho, abrimos mão de várias outras possibilidades. Sempre que vamos por aqui, optamos por não ir por ali.

Na hora de escolher uma profissão, por exemplo, a pessoa desiste das outras possibilidades. Quantos sonhos de ser músico não foram abandonados para fazer nascer um dentista, um advogado, um bancário? Quantos potenciais jogadores de futebol não se transformaram em publicitários, empresários, professores?

E as escolhas não param por aí. Quando se abandona um emprego fixo para apostar no sonho de ser empreendedor, é preciso abrir mão do salário fixo, do 13º, do vale-refeição… Por outro lado, ficar em um emprego fixo implica não experimentar o empreendedorismo, com suas inseguranças e potencialidades. A segurança de um emprego público implica abrir mão de outras experiências – e, quem sabe, um crescimento maior na iniciativa privada ou em uma atividade autônoma.

É claro que, especialmente em tempos de crise econômica, nem sempre podemos fazer as escolhas somente com base em nossos desejos ou talentos. Mas, mesmo assim, serão sempre escolhas – e teremos de arcar com os resultados delas. Muita gente empreende por necessidade, e não por oportunidade; muitos profissionais de uma área trabalham em outras porque precisam buscar uma fonte de renda que sua profissão não proporcionou. Nesse caminho, encontramos pessoas que descobriram novos talentos, que encontraram outras possibilidades de realização, e também outras pessoas frustradas ou conscientes de que precisam, ao menos temporariamente, desviar-se do caminho que queriam seguir.

Se, como diz a sabedoria popular, somos resultado de nossas escolhas, nunca saberemos o que poderia ter acontecido se tivéssemos escolhido outro caminho. E seu tivesse insistido mais um ano naquele negócio que parecia estar falindo? E se eu tivesse acreditado no meu talento pro futebol? E se eu tivesse prestado vestibular para Química, ao invés de Direito? Nunca saberemos. Poderia ter sido muito melhor, ou muito pior.

Enquanto pensamos em nossas escolhas, deleitemo-nos com as palavras de Cecília Meireles, que, em 1964, eternizou em poema nosso eterno dilema:

Ou isto ou aquilo

Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.