JOSÉ MARQUES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio a críticas ao veto de empresas financiarem campanhas eleitorais, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar Mendes, disse nesta segunda (21) que o fundo de R$ 3,6 bilhões seria insuficiente para o custeio de campanhas de deputados em 2018, se o sistema eleitoral não for modificado.
Ele diz que em 2014 foram gastos pelo menos R$ 5 bilhões para as campanhas dos parlamentares e “logo, isso não seria suficiente para custear uma campanha nos mesmos termos”.
“Por isso o meu temor de que nós comecemos a ter dinheiro ilícito de outras fontes”, disse Gilmar, citando que há dinheiro de narcotráfico em campanhas mexicanas. “O fundo público sustentará esse sistema e as doações de pessoas físicas serão suficientes ou nós vamos ter de novo uma enxurrada de caixa dois e tudo o mais?”, questionou o ministro, que também é membro do STF (Supremo Tribunal Federal), em evento sobre a reforma política organizado pelo jornal “O Estado de S.Paulo”.
Segundo o ministro, nas eleições de 2016, dentre 750 mil doadores, o TSE descobriu que 300 mil não tinham capacidade de renda para fazer a doação. Ele questiona: “Será que as empresas não estão usando essas pessoas para fazer a doação?”.
“Nós temos que de fato discutir o custeio da democracia, é inevitável. Se nós colocarmos isso em um plebiscito, certamente vamos ter respostas como: não se quer fundo público e não se quer também financiamento corporativo. Então a pergunta básica é: como fica?”, indagou.
Depois, a jornalistas, voltou a afirmar que o modelo de financiamento —no caso, retorno do financiamento privado— já passou na Câmara e precisa ser discutido no Senado.
Gilmar voltou a defender um “semiparlamentarismo”, com um presidente como chefe de Estado, e disse que discutiu isso com o presidente Michel Temer em reunião no sábado (18).
‘TOMATAÇO’
O ministro foi alvo de manifestantes no evento. Antes de Gilmar entrar, o empresário Ricardo Roque foi expulso do local porque carregava uma mochila de tomates podres e prometia fazer um “tomataço” contra o ministro.
Ele se disse defensor da Lava Jato, “a maior operação contra a corrupção do mundo”, e reclamou das críticas que o ministro faz à operação.
Depois que discursou, Gilmar também foi vaiado por um grupo que usava narizes de palhaço e pedia o impeachment do ministro, porque ele não tem “conduta ilibada”.
Questionado sobre os atos, Gilmar disse que não se preocupa porque “as pessoas não têm informação do que está nos autos, do que está sendo analisado num conceito formal”.