DANILO LAVIERI
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – As eliminações recentes e a queda de rendimento no Brasileiro foram os ingredientes necessários para agitar novamente os bastidores do Palmeiras. Já em ebulição antes mesmo das quedas, o cenário político alviverde ganhou ares de guerra nos últimos dias.
No centro das críticas sempre esteve Alexandre Mattos, que até recebeu ameaça de morte. O diretor de futebol é alvo fixo do ex-presidente Mustafá Contursi. Ele usa a sua influência para contestar o trabalho e o planejamento feito pelo profissional. E tem conquistado cada vez mais adeptos.
Mattos tem a característica de centralizar as decisões do departamento. Gosta de estar à frente das negociações e da resolução de problemas. No caso de Felipe Melo, por exemplo, tem sido único representante do clube nas discussões com os advogados do atleta.
A política é bem parecida com a que o diretor usou para conduzir o time nos últimos dois anos, quando conquistou os títulos da Copa do Brasil e do Brasileirão. Como o resultado em 2017 não tem sido o que se imaginava, o que era virtude no passado virou problema no presente.
O que também influencia na análise do trabalho desenvolvido por Mattos é a maneira de condução por parte do presidente. Maurício Galiotte gosta de dar mais ouvidos ao Conselho e isso abre espaço para que as reclamações também ganhem mais peso.
O ex-presidente Paulo Nobre recebia críticas por ser centralizador e de ouvir pouco o Conselho, mas era elogiado por não ter medo de tomar decisões. A ideia era que a última palavra sempre fosse a dele: “O regime é presidencialista”, afirmava ele.
Galiotte tem por característica distribuir funções e não ser o único responsável pelas escolhas. Foi assim no caso da aprovação da candidatura de Leila Pereira ao Conselho mesmo sem ter tempo mínimo de associação ao clube, por exemplo. O presidente optou por deixar a decisão nas mãos dos conselheiros.
Ao mesmo tempo em que atende a vontade da maioria e ganha elogios por ser mais político, corre riscos de sofrer pressões que vão contra as suas próprias bandeiras de trabalho, como o profissionalismo nos setores vitais do clube. Com receio desse movimento, inclusive, várias chapas palmeirenses oficializaram na segunda-feira (21) uma união a favor do profissionalismo e contra Mustafá.
Para efeito de comparação, Nobre deixou claro que, se continuasse no poder, não aceitaria a entrada da dona da Crefisa no ambiente político, mesmo que isso significasse ir contra a vontade da maioria dos conselheiros. O mais importante para o ex-presidente era manter à risca o que dizia o estatuto. Ele tentou vetar a troca da data de admissão na ficha de associação de Leila, como já mostrou o UOL Esporte.
Outro fantasma que volta a circular a Academia de Futebol é o problema de relacionamento entre Mattos, Cuca e elenco. No ano passado, diversos episódios de discussões entre técnico e diretor e entre técnico e jogadores foram vistos no dia a dia alviverde. Em 2016, no entanto, essas diferenças foram superadas na hora de conquistar o Nacional. Tanto o diretor quanto o técnico afirmam publicamente que não há nenhuma desavença que gere problemas de ambiente.
O técnico fala publicamente que não vai pedir para sair independentemente dos resultados, mas admitiu recentemente que chegou a pensar em se demitir quando entrou em rota de colisão com Felipe Melo.
Além de toda política conturbada, Cuca ainda precisou lidar com os que os defensores do trabalho da atual gestão chamam de imponderáveis. A lesão de Moisés, a queda de rendimento de Tchê Tchê e o insucesso na aposta em Borja são apontados como decisivos para que o objetivo de 2017 não fosse cumprido.
Com apenas um ponto dos últimos nove disputados no Brasileiro, o Palmeiras tem a esperança de que as semanas vazias de trabalho consigam dar resultado já no domingo (27), contra o São Paulo. Na última semana, a comissão conseguiu dar folga de dois dias e ainda fazer treino em dois períodos na quinta-feira (17), item raro quando o calendário era dividido em três competições. Na última segunda (21), o grupo também folgou.
Fora de campo, apesar de toda a pressão, o discurso sempre enaltece a manutenção das principais bandeiras de trabalho, como o pagamento da dívida total do clube até o fim de 2018.