Dois fatos recentes comprovam que eles não estão aprendendo nada. Me refiro à classe política. Nossos representantes nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal. Dessas casas legislativas sobram maus exemplos – com raríssimas exceções. Eles não estão apreendendo nada.
Assistimos nos últimos anos ao pior de nós mesmos. O submundo nojento da corrupção evidenciado pelos desdobramentos de quatro dezenas de fases da operação Lava Jato cujos alvos são nossos representantes. Sem falar em outras tantas ações da Polícia Federal. Homens e mulheres eleitos pelo povo. Por mim e por você. Vivenciamos uma letargia anormal, uma incapacidade de reagir. Aqueles que foram às ruas pedir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) estão hoje denunciados — sujos pela lama da corrupção que disseram tentar combater. E, mesmo assim, eles não estão aprendendo nada.
Começamos por aqui mesmo, em Curitiba. A capital do estado paranaense tornou-se, também por causa da Lava Jato, em símbolo nacional do combate à corrupção. É daqui que partem as canetadas do juiz federal Sérgio Moro que abalaram a República – primeiro, a governada pelo PT e agora a do PMDB.
Mas foi daqui mesmo, de Curitiba, que uma vereadora jovem, de primeiro mandato, erguendo uma bandeira da proteção e defesa dos animais, caiu na vala comum. Pelo menos é esta a suspeita. Katia Dittrich, ou Kátia dos Animais de Rua, foi eleita com pouco mais de 4 mil votos. A parlamentar está sendo acusada por ex-funcionários do próprio gabinete de ficar com parte do salário deles. De contraírem empréstimos pessoais e repassar à vereadora. E, à Justiça Federal, declarou que aos 48 anos não possui bens. Os indícios são fortes, mas ainda trata-se de uma suspeita de desvio –de certa forma até juvenil – de dinheiro público em plena capital da Lava Jato. Eles não estão aprendendo nada.
O caso de Kátia dos Animais de Rua é apenas o exemplo mais recente. Ela não é a única que pode estar exercendo (segundo denúncia dos ex-funcionários) a exercer tal prática criminosa. O Ministério Público Estadual tem como alvos outros vereadores de Curitiba suspeitos do mesmo crime – feitos talvez de outra forma, mas com o mesmo fim: amealhar o dinheiro público. Me permita leitor declinar o nome do investigado, com único objetivo não atrapalhar o trabalho dos promotores. Na Assembleia Legislativa há casos semelhantes — apesar de ter passado pela mais grave crise de ética e moral na época dos Diários Secretos. Eles não estão entendendo nada.
Curitiba não é um ponto destoante no país. Os erros cometidos nos grandes rincões do Brasil se repetiram na terra símbolo do combate à corrupção. Talvez os erros daqui tenham sido até mais crassos. Facilmente percebido. Até porque em tempos de Lava Jato, quando são descobertas offshore em paraísos fiscais, cartel entre as maiores empreiteiras do país, uma vereadora tomar parte do dinheiro do funcionário só comprova que eles não estão aprendendo nada.
O que falar então da proposta de um fundão de R$ 3,6 bilhões para custear a campanha dos políticos em 2018? E da açodada discussão sobre a reforma política – talvez uma das mais necessárias para os brasileiros? Nossos deputados federais discutem não uma reforma séria, mas alterações que facilitem a reeleição deles mesmo. Diante do cenário de empreiteiros envolvidos até o pescoço com a corrupção e sem qualquer prognóstico de arrecadação de recursos para financiar as campanhas, nossos representantes resolveram usar o nosso dinheiro. O meu e o seu. Dinheiro que pagamos as duras penas com impostos pesadíssimos. E quem vai fiscalizar a aplicação deste fundão? Afinal de contas são R$ 3,6 bilhões. Eles, definitivamente, não estão apreendendo nada.

Aécio Neves e o PSDB não falam mais a mesma língua

Aécio Neves nem de longe é a mesma liderança que por pouco em 2014 não levou a presidência da República. Suas ideias e ideais se assemelham muito às das velhas raposas do PMDB. Suspeito de envolvimento com casos de corrupção, Aécio tem se empenhado pessoalmente para manter os tucanos no ninho do presidente Michel Temer (PMDB). Valem até encontros noturnos no Jaburu – parecendo de fato uma raposa – como o da última sexta-feira. E três dias depois vem o anúncio do governo de privatizar uma parte da Eletrobras – estatal cujo um narco do comando teria ligação com Aécio. Só coincidência? A reunião noturna e depois o anúncio? O pensamento de Aécio é simples, prático e extremamente egoísta. Sua única salvação é Temer. É fazer parte do plano que Temer tem colocado em prática custe o que custar: frear a Lava Jato. Aécio também quer isso. Mas muitos do PSDB querem distância do Governo Federal. O partido rachou. E a tendência é de que o PSDB se afaste daquela que foi sua principal estrela. Aécio Neves e o PSDB não falam mais a mesma língua.