O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou nesta quarta-feira (13) seu segundo depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, para acusar o magistrado de parcialidade ao julgar os processos contra ele, e afirmou que a operação Lava Jato é refém da imprensa. Lula também disse que o ex-ministro Antonio Palocci, que o acusa de ter recebido dinheiro desviado da Petrobrás, seria frio e calculista, e estaria tentando incriminá-lo para sair da prisão. Em depoimento, Palocci disse que Lula tinha R$ 300 milhões à disposição cedidos pela empreiteira Odebrecht.

O depoimento durou cerca de duas horas, e terminou com um confronto direto entre o petista e o juiz. No final da audiência, Moro perguntou se Lula tinha algo a acrescentar. O ex-presidente então, perguntou se, ao conversar com os netos, poderia dizer que foi julgado por um juiz imparcial. Não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta para mim, mas posso dizer que sim, respondeu Moro. “Mas não foi na outra ação”, rebateu Lula, condenado por Moro. “Não vou discutir a outra ação aqui”, disse Moro, afirmou que a defesa do ex-presidente deverá ser apresentada ao Tribunal. “Discutir não seria bom para o senhor”, afirmou o juiz, que encerrou o depoimento em seguida.

“Parece que tem uma caça às bruxas”, afirmou o petista. “Tenho lidado com muita paciência, vi o depoimento do Palocci (o ex-ministro Antônio Palocci, que afirmou que Lula recebeu R$ 300 milhões da Odebrecht) e não respondi nada, muita gente pensou que eu ia chegar aqui com raiva do Palocci. Ele está preso há mais de um ano, tem o direito de querer se livre, tem o direito de ficar com o dinheiro que ele ganhou com paletras, ele tem família. O que não pode é você não querer assumir a responsabilidade pelos atos ilícitos que você fez”.

Lula disse respeitar o Ministério Público Federal, mas afirmou que os procuradores e a Justiça Federal se tornaram “reféns da imprensa”. “É que o Ministério Público, ligado à Lava-Jato, enveredou por um caminho que vocês estão com dificuldades de sair. O objetivo é encontrar alguém pra me incriminar. Esses dias fiquei sabendo de uma pessoa que foi prestar depoimento na Polícia Federal. De 28 perguntas, 26 foram sobre o Lula”.

Palanque

Depois de depor, Lula seguiu para a praça Generoso Marques, no centro de Curitiba, onde cerca de 7 mil manifestantes o esperavam. Ele fez um rápido discurso, onde reafirmou ser alvo de mentiras, motivadas pelo temor de que ele volte à presidência. Eu tenho consciência do porque da minha tentativa de condenação. Ao invés de ficar nervoso, eu fico orgulhoso, porque depois de mais de dois anos investigando a minha vida, até agora eles não encontraram uma única verdade, disse o petista.

Palocci é frio e simulador, diz petista

No depoimento ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-ministro Antonio Palocci de “calculista, frio e simulador”, e negou que tenha feito qualquer tipo de acerto ilícito com a empreiteira Odebrecht. “Se ele (Palocci) fosse um objeto, seria um simulador”, afirmou.
Lula prestou seu segundo depoimento a Moro uma semana depois que seu ex-ministro da Fazenda afirmou que o petista avalizou um “pacto de sangue” com a Odebrecht, com o pagamento de R$ 300 milhões em vantagens indevidas em troca de manter o protagonismo da empreiteira no governo. O terreno ao instituto estaria incluído nesse valor. Nesta ação, ele é acusado de se beneficiar de vantagens indevidas pagas pela empreiteira Odebrecht -incluindo a compra de um terreno que seria destinado ao Instituto Lula, e cuja negociação teria sido intermediada por Palocci.
O ex-presidente disse que Palocci nem sequer era responsável por assuntos do Instituto Lula.

BONECO DE SUPER HERÓI – Manifestantes contrários ao ex-presidente Lula se reuniram para apoiar a operação Lava Jato, ontem, em frente ao museu Oscar Niemeyer. No começo da tarde, o movimento formado por cerca de 70 pessoas, ganhou o apoio de um boneco inflável do juiz Moro vestido com capa de super herói. Na mão esquerda, o boneco segurava uma cobra na mão em alusão a uma jararaca.
O animal é uma referência às declarações dadas por Lula em março de 2016, quando foi conduzido coercitivamente para depor na Polícia Federal, em São Paulo.