ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Executivos da H. Stern afirmaram em depoimento nesta terça-feira (19) que incluíram o nome do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo em certificados que originalmente não constavam seus dados.
Esses papéis adulterados foram entregues ao Ministério Público Federal um dia após a deflagração da Operação Calicute, que prendeu Cabral em novembro de 2016. Meses depois, os executivos da joalheria firmaram delação premiada com o Ministério Público Federal e apresentaram documentos em que no campo de dados do comprador constava “Cliente não quis fornecer dados”.
A divergência foi explorada pelas defesas de Cabral e Adriana durante o depoimento, com o objetivo de tentar colocar em dúvida as provas entregues pela H. Stern. A ausência dos nomes nos certificados reforça a tese da Procuradoria segundo a qual o casal buscava esconder seus nomes a fim de ocultar o patrimônio.
“Nós entendemos que a ordem judicial determinava que fossem identificados os reais compradores. Por isso incluímos os nomes”, disse o vice-presidente da H. Stern, Ronaldo Stern.
Os executivos da H. Stern afirmaram ao juiz Marcelo Bretas que os dados do sistema interno da empresa não foram alterados. Segundo eles, os arquivos originais constavam no campo comprador a informação “Cliente não quis fornecer dados”. A informação foi modificada fora do programa da joalheria, afirmaram em executivos.
A decisão da Calicute determinava que as joalherias apresentassem os documentos referentes às compras realizadas pelo casal Cabral. A empresa então emitiu notas fiscais -que não haviam sido produzidas na data da compra-, bem como imprimiu os certificados incluindo o nome dos dois.
Os executivos prestaram depoimento na ação penal sobre a aquisição de R$ 4,5 milhões de joias sem notas fiscal na joalheria.
De acordo com os depoimentos, os reais compradores das joias foram atribuídos pela diretora comercial da empresa, Maria Luiza Trotta, responsável pelas vendas ao casal a partir de 2012.
“Seria risível se não houvesse pessoas presas por isso, que toda a prova do processo tenha sido extraída da memória da diretora. Os documentos foram confessadamente adulterados. Sérgio Cabral deveria ser absolvido hoje”, disse o advogado do ex-governador, Rodrigo Roca.
Na denúncia, a Procuradoria apresenta como provas adicionais e-mails entre Trotta e o presidente da H. Stern, Roberto Stern, à época das compras descrevendo as transações.
“Os certificados para a gente não têm a importância que vocês estão dando”, declarou o diretor financeiro da joalheria à época, Oscar Luiz Goldemberg.
Goldemberg também reconheceu que uma das notas fiscais de uma joia no valor de cerca de R$ 50 mil foi atribuída equivocadamente em nome de Adriana Ancelmo, quando o real comprador era Cabral.
O casal é acusado de ter adquirido no total R$ 11 milhões em joias na H. Stern e Antônio Bernardo de forma a pcultar patrimônio. Em seu depoimento, Trotta reafirmou que a maior parte das compras foram feitas em dinheiro vivo.
A diretora declarou ainda que apenas o casal tinha esse tipo de atendimento exclusivo, como o dado pela H. Stern.
“Eles eram os únicos atendidos por uma diretora, que pagavam em dinheiro direto na tesouraria da empresa e sem terem o nome no sistema”, disse Trotta.
O presidente da H. Stern admitiu, porém, que outros clientes tiveram os nomes omitidos em notas fiscais ou certificados. Contudo, “nunca nos valores e no volume deles [casal Cabral]”.