ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eliminado da Copa Libertadores e com chances remotas de ser campeão brasileiro, o Santos tenta encerrar um problema financeiro.
O clube está próximo de fechar acordo para o pagamento da dívida de cerca de R$ 75 milhões com a Doyen, grupo de investimento com sede em Malta, que emprestou dinheiro para o Santos contratar Leandro Damião em 2013.
O acerto encerraria também processo em que a empresa solicita que o Santos entregue uma cópia do contrato de venda do meia-atacante Geuvânio para o Tianjin Quanjian, da China, em janeiro do ano passado, por 11 milhões de euros (R$ 41,2 milhões em valores atuais).
A empresa teria direito a 35% do valor. Decisão judicial em 19 de dezembro de 2016 determinava que o clube cedesse o contrato e a multa pelo não cumprimento era de R$ 300 mil por dia útil.
O Santos não cumpriu a determinação e a multa se tornou impagável. Em 197 dias úteis desde então, o valor estaria em R$ 59 milhões.
“Não sei se já houve acordo. Estamos conversando. Não posso dizer ainda se está perto ou longe. Vamos aguardar mais um pouco. Estamos conversando”, disse o presidente Modesto Roma Júnior à reportagem na terça (19).
A proposta inicial santista foi pagar metade do valor da dívida (cerca de R$ 37,5 milhões) em parcelas anuais durante o período de dez anos.
Um representante da Doyen disse à reportagem que as conversas “andaram” e que o acordo, embora não tenha sido fechado, está próximo. O Santos contratou um escritório de advocacia para tocar as negociações com o credor.
A pendência com a Doyen é uma das heranças da administração do presidente Odilio Rodrigues Filho. Aliados de Modesto Roma Júnior esperam que o acerto possa ser usado pelo atual mandatário na campanha pela reeleição à presidência do clube, em dezembro deste ano.
Se não conseguir virada no Brasileiro, a equipe terminará o ano sem títulos. Eliminar o esqueleto no armário que representa a dívida com a Doyen fortaleceria um discurso de responsabilidade financeira da diretoria atual.
O plano inicial era apressar o acerto para anunciá-lo logo após a classificação para a semifinal da Libertadores, mas a derrota em casa para o Barcelona (EQU), na última quarta (20) frustrou os planos dos cartolas.
PARTICIPAÇÃO
A Doyen também tinha 20% de Gabriel (negociado com a Internazionale-ITA), 50% de Felipe Anderson (vendido para a Lazio-ITA). Do elenco atual, além de Lucas Lima, o grupo tem participação em 20% dos direitos econômicos de Daniel Guedes (ainda no Santos). Nas categorias de base, a empresa também tem participação em outros atletas.
Em dezembro de 2013, a empresa emprestou R$ 42 milhões para o Santos comprar Leandro Damião do Internacional. Ele atuou pelo clube paulista apenas em 2014 e fez 11 gols em 44 jogos.
Quando o Santos ficou sem caixa para contratações e problemas financeiros naquele período, o fundo foi utilizado como uma das principais fontes de recursos para ajudar no futebol.
Durante o litígio, o Santos —que também abriu processo contra a Doyen— buscou outras formas de encerrar o débito. Tentou driblar a presença de Nelio Lucas, CEO da empresa, que mora em Portugal, e pediu para negociar com diretores do fundo de investimento em Malta. A solicitação não foi atendida.
Criada em 2011, a Doyen Sports é o braço esportivo de fundo hedge (que coleta dinheiro de diferentes pessoas ou empresas e faz investimentos diversificados) chamado Grupo Doyen.
Desde a fundação até 2016, a empresa investiu 170 milhões de euros (R$ 636 milhões em valores atuais) no esporte, principalmente na porcentagens em jogadores de futebol, algo que foi proibido pela Fifa em 2015. Segundo site da empresa,esta oferece “especialização no mercado de transferências e ajuda a executivos, diretores e técnicos para que obtenham o talento que precisam.”
A Doyen também atua em marketing esportivo e gestão de carreira. Em 2012, passou a administrar a imagem de Neymar na Àsia, Angola, Rússia, México, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.