É na Terra da Fantasia, na Floresta Encantada e no Mundo de Oz que muitas crianças encontram alento em meio a um cotidiano de violências. São nomes saídos dos contos de fadas para as portas das salas de atendimento na sede do programa Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (HC Dedica), que todos os dias atende de 40 a 60 crianças vítimas de violência em casos graves ou gravíssimos registrados em Curitiba.

Criado em 2004, o projeto conta com uma equipe multidisciplinar que atende casos encaminhados pela Justiça, delegacias, escolas e hospitais da cidade. Além da criança, o agressor/família também são atendidos, de forma a minimizar sequelas físicas e emocionais, recuperar o desenvolvimento neuro psicomotor, a defasagem do aprendizado, bem como o tratamento dos consequentes danos físicos, psíquico, ético e morais.

Desde setembro do ano passado com sede nova, localizada na Rua General Carneiro, 95, o programa voltou a atender os jovens curitibanos após um período de lacuna entre 2014 e 2016. Atualmente, recebe entre 8 e 12 novos casos por semana – número que já foi maior no começo do ano, mas precisou ser limitado por conta da falta de profissionais.

Hoje estamos limitando a entrada, então recebemos de 8 a 12 casos novos por semana, realizando de 40 a 60 atendimentos por dia. Mas no começo do ano chegamos a receber 16 casos semanais, afirma a pediatra Luci Pfeiffer e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente. Precisamos aumentar nossa equipe. Hoje contamos com seis psicólogos, dois pediatras e dois psicanalistas. A assistente social deixou a equipe recentemente, complementa.

Uma das idealizadores e responsável pelo programa, considerado o primeiro do país a prestar atendimento especializado e interdisciplinar a crianças e adolescentes vítimas de violência, Luci comenta que o espaço acaba se tornando uma espécie de oásis para as crianças.

Elas adoram vir aqui. Entram correndo e não querem mais ir embora. E é impressionante como as crianças, quando retiradas da situação de violência e bem atendidas para tratarem das marcas que ficam, respondem muito bem. Esse é o prêmio que a gente ter, ver a evolução desses jovens, diz a pediatra.

Diferente do que muitos poderiam imaginar, a violência contra crianças e adolescentes é uma mancha que assombra famílias de todas as classes culturais e os mais diversos níveis culturais, segundo a pediatra Luci Pfeiffer. É claro que a classe baixa vem mais porque a parede é mais fina. Ela aponta também que em mais de 90% dos casos a violência ocorre dentro de casa. É muito raro encontrar algo fora do ambiente familiar, mesmo nos casos de abuso sexual’.

Pais cada vez mais ausentes: Estamos criando depressivos, diz pediatra
São diversos os problemas a serem enfrentados no tocante à violência contra crianças e adolescentes. No nível cultural, por exemplo, marca presença ainda a noção de que pai e mãe podem fazer o que querem com seus filhos. No âmbito educacional, a falta de tempo, de paciência e o stress do dia a dia também são um problema para os pais, que acabam não passando valores adequados aos filhos.
Mas quiçá nenhum problema seja tão grave quanto o abandono emocional, com um número crescente de pais trocando os momentos com os filhos, que deveriam ser sagrados, para navegar em redes sociais, por exemplo. Há hoje uma terceirização do cuidar. Os pais deveriam valorizar os momentos com os filhos, mas estão perdendo o prazer de cuidar, de ver a evolução dos filhos, e com isso estão também perdendo chances. Estamos criando uma geração de depressivos, alerta Luci Pfeiffer.
Um traço marcante desses casos de violência, contudo, é a trajetória dos pais/agressores.100% dos pais agressores repetem sua história sem perceber, porque é difícil questionar a educação que teve. Para cada história de violência da criança tem uma ou duas histórias dos responsáveis, comenta a pediatra.
A criança sempre traz a culpa para si porque vê os pais como santos. Por isso, e já que não podemos reescrever nossa história, devemos ao menos nos esforçar para relê-la.

Serviço
Nome: HC Dedica – Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente
O que faz: Atende crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e sexual encaminhados pelo Judiciário, escolas ou serviços de saúde de Curitiba. Além da vítima,a tende também a família/agressor, buscando minimizar sequelas e recuperar o desenvolvimento do jovem
Necessita de apoio
para a manutenção do serviço de atendimento, despesa com profissionais, aquisição dos equipamentos, mobiliário, materiais didáticos e lúdico para psicoterapia e brinquedoteca, desenvolvimento de curso de capacitação para profissionais que fazem atendimento a criança e adolescente e elaboração de materiais de conscientização.
Como ajudar
O projeto é mantido com o apoio da Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas (AAHC), que aceita doações por meio de seu site. Os valores podem ser repassados via Paypal ou Pagseguro, boleto ou mesmo doação em dinheiro, entre outros. Confira as opções em
Endereço
Rua General Carneiro, 95