A ansiedade é um dos sintomas da contemporaneidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 33% da população mundial sofre com o problema na era do imediatismo, em que tudo (ou quase tudo) é para ontem. No Paraná, isso seria o equivalente a 3,7 milhões de pessoas acometidas. Agora, porém, elas contam com o suporte da realidade virtual para tratarem a questão.
Em Curitiba, uma das pioneiras no assunto é a psicóloga Nataly Martinelli, do Solar Atendimento Psicológico, que utiliza no tratamento de seus pacientes um programa vinculado a uma startup europeia. Embora seja uma ideia presente na psicologia há cerca de 20 anos, apenas recentemente esse tipo de tecnologia passou a ser utilizada mais largamente no tratamento de pacientes, por conta de sua popularização.
Há três meses trabalhando com os óculos de realidade virtual, Nataly conta já ter tratado 12 pacientes que sofrem dos mais diversos problemas, como síndrome do pânico, medo de voar, medo de injeções, animais, de dirigir, de falar em público, agorafobia, medo do escuro, claustrofobia, TOC e até ansiedade antes de provas. Os resultados foram bastante satisfatórios, conta a psicóloga.

O tratamento ficou muito mais efetivo e rápido. Antes o paciente tinha de se imaginar numa determinada situação, hoje ele se vê nessa situação, fica imersa, explica a especialista. O equipamento vem a corroborar no tratamento, fazendo com que o paciente entre em contato de forma gradativa com o objeto de sua fobia. É como se fosse um jogo de videogame.
A ideia é simples, possibilitando aos pacientes experimentarem uma situação sem ter de lidar com a tensão da vida real. Na psicologia, inclusive, uma das técnicas para fazer com que alguém supere um medo ou trauma é, justamente, colocar um de frente para o outro, de modo gradual, fazendo com que o paciente responda, a partir da exposição dosada, de um modo diferente àquilo que o apavora ou aflige.
Interesse
Não são somente os pacientes que estão interessados na novidade. Entre os próprios psicólogos, o interesse é grande e crescente. O uso da realidade virtual na psicologia é uma tendência, tanto que muitos terapeutas já estão me procurando para que eu ofereça cursos. E minha intenção é justamente esta, de trazer a tecnologia junto para auxiliar no nosso maior objetivo, que é ajudar as pessoas.

Como um jogo de videogame

Para alcançar os resultados esperados, Nataly utiliza o equipamento em conjunto com outras técnicas, como a de hipnose e de relaxamento. Durante as sessões, que duram cerca de 50 minutos, é feito ainda o acompanhamento do nível de tensão do paciente, o que permite dinamizar o tratamento, fazendo subir de nível, como num jogo de videogame.
Um exemplo é o tratamento da aerofobia (medo irracional de voar). Num primeiro cenário, a pessoa vivenciará a experiência de estar em casa, se preparando para a viagem. Depois faz o trajeto de sua casa até o aeroporto, tendo em seguida de enfrentar o momento de embarque no avião. Por último, a cena do avião em si, com decolagem, turbulências e pouso.
Ainda segundo Nataly, por se tratar de algo novo e efetivo, a receptividade dos pacientes tem sido enorme. Há casos de pacientes que fizeram tratamentos convencionais e se surpreenderam com o retorno obtido através da realidade virtual. É muito intenso e real aquilo proporcionado pelo equipamento, a ponto de alguns pacientes terem reações fisiológicas durante e após as sessões, aponta a psicóloga.