FABIANO MAISONNAVE
MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – Com ações em três Estados, a Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (4) uma operação contra a extração ilegal de madeira na Terra Indígena Cachoeira Seca (PA), uma das áreas protegidas mais devastadas da Amazônia.
Em mobilização que envolveu 40 policiais, foram realizados 10 mandados de condução coercitiva, 11 mandados de sequestro de bens e valores e 6 mandados de busca e apreensão em imóveis pertencentes aos investigados. Duas empresas tiveram as atividades suspensas: Silva e Suski, em Rurópolis (PA), e Nelson da Silva Indústria, e Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira (PA).
Além de cinco cidades paraenses, houve também diligências em Curitiba, União da Vitória (PR), Porto União (SC), onde os proprietários têm residência.
Um dos levados a depor é funcionário da Secretaria de Meio Ambiente do Pará. Ele é suspeito de fraudar guias florestais para legalizar a madeira extraída da Cachoeira Seca, habitada por um grupo da etnia arara contatado em 1987.
De acordo com o delegado responsável pela operação, Yuri Rodrigo de Oliveira, o esquema envolvia manejos florestais da região aprovados com um volume acima do existente na área certificada. Esse excedente gera os créditos florestais fictícios usados para esquentar a madeira.
O principal alvo dos madeireiros é o ipê, a madeira de alto valor comercial e facilmente localizável na floresta por causa da floração. Boa parte acaba exportada —as empresas sob investigação têm clientes em oito países, incluindo EUA, França, Alemanha e Coreia do Sul.
O lucro com o ipê é tanto que compensa a abertura de centenas de quilômetros de estradas. Levantamento do ISA (Instituto Socioambiental) mostra que os madeireiros abriram 892 km de vias dentro da Cachoeira Seca ao longo dos últimos cinco anos.
R$ 897 MILHÕES
De acordo com laudo pericial da Polícia Federal, o dano ambiental é de R$ 897 milhões, incluindo o valor da madeira roubada e o desmatamento provocado para a extração das árvores.
O envolvimento da Silva e Suski é conhecido desde outubro de 2015, quando uma operação do Ibama confiscou maquinário da madeireira dentro da Cachoeira Seca. O relatório foi enviado à PF, que passou a investigar.
A empresa acumula quatro multas no Ibama, num total de R$ 611 mil. A reportagem telefonou e enviou e-mails para ambas as empresas fechadas pela PF, mas nenhum representante foi localizado ou respondeu ao pedido de entrevista.
Por telefone desde a aldeia, o cacique da Cachoeira Seca, Mobu-odo Arara, afirma que os madeireiros agem livremente na terra indígena. “Aquela coisa da retirada continua o mesmo de sempre.”
O líder indígena também afirmou que o governo federal não nada fez para promover a desintrusão de cerca de mil famílias dentro da área. “O presidente que entrou [Michel Temer] é contra índio, então está tudo parado.”
Cachoeira Seca é a terra indígena do país com a maior taxa de desmatamento recente. Somente no ano passado, foram desmatados 1.315 hectares, segundo o ISA, que atribui o aumento às pressões geradas pela usina de Belo Monte.
Responsável pela operação de 2015, o coordenador do GEF (Grupo Especializado de Fiscalização do Ibama), Roberto Cabral, afirma que a principal origem das irregularidades são os créditos de manejo florestal. Depoimentos colhidos na época indicavam a saída diária de dez caminhões carregados de madeiras, todos com papéis frios.
O Pará e o Mato Grosso são os únicos Estados da Amazônia que não participam do Sinaflor (Sistema Nacional de Controle da Origem e dos Produtos Florestais). A falta de integração não permite que o Ibama monitore os dados nesses Estados.