DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – A Justiça espanhola ordenou nesta segunda-feira (16) a prisão dos líderes separatistas Jordi Sànchez e Jordi Cuixart, responsáveis, respectivamente, pelas organizações civis independentistas Assembleia Nacional Catalã e Òmnium Cultural.
Acusados de sublevação, eles podem ser condenados a até 15 anos de cadeia.
No mesmo dia, o presidente catalão, Carles Puigdemont, pediu um diálogo de dois meses entre autoridades da região, representantes de Madri e a comunidade internacional para resolver a crise territorial.
Mas ignorou o ultimato dado pelo premiê Mariano Rajoy, que havia fixado o dia 16 como data limite para Puigdemont esclarecer se proclamou ou não a independência catalã no último dia 10.
Segundo a Justiça, Sànchez e Cuixart convocaram as manifestações populares de 20 de setembro para obstruir as buscas da polícia espanhola, que vistoriava prédios públicos catalães a fim de impedir o plebiscito de 1º de outubro. Milhares de pessoas compareceram.
A Promotoria espanhola pediu também a detenção sem fiança de Josep Lluís Trapero, chefe da polícia catalã, acusado de sublevação. Ele teria descumprido as ordens de Mari de impedir a realização do pleito.
O governo espanhol entende que ele seja em parte responsável pelos embates em torno das urnas –nos quais estiveram envolvidos membros da Polícia Nacional e da Guarda Civil, duas forças ligadas à administração central.
A juíza Carmen Lamela não aceitou o pedido da Promotoria, mas exigiu que Trapero compareça a cada 15 dias a um tribunal. Ele precisará entregar o passaporte e não poderá sair do país durante as investigações.
‘DIÁLOGO SINCERO’
Também na segunda, Carles Puigdemont dirigiu-se a Rajoy para pedir uma reunião “o mais rápido possível”. “Nossa proposta de diálogo é sincera e honesta”, disse, criticando o uso da força policial para barrar o plebiscito.
Na consulta, 90% dos eleitores votaram pelo “sim”, mas só 43% dos registrados compareceram. Quase 900 pessoas ficaram feridas em embates com forças de segurança.
Com os resultados do plebiscito, o presidente catalão foi ao Parlamento regional no dia 10 e declarou a independência do território. Mas, segundos depois, pediu que a separação fosse suspensa para haver diálogo.
A partir daí, Rajoy exigiu esclarecimentos. Na manhã de segunda, a vice-premiê, Soraya Sáenz de Santamaría, ironizou: “A pergunta que fizemos não é difícil”.
Puigdemont tem agora até quinta-feira (19) para voltar atrás e dizer de maneira inequívoca que não proclamou a separação.
Isso significa que se torna cada vez mais provável o uso do Artigo 155 da Constituição espanhola, com o qual Rajoy pode suspender temporariamente a autonomia catalã e antecipar as eleições regionais, passando por cima de um governo que tem desobedecido todas as suas ordens.
O próprio ultimato de Rajoy a Puigdemont já se inscrevia no mecanismo do Artigo 155. Para suspender a autonomia catalã, o premiê precisa da maioria absoluta do Senado, o que seu Partido Popular já tem.
A Catalunha, uma região espanhola, já goza de autonomia parcial e conta com Parlamento e polícia. Mas tem se fortalecido nos últimos anos o projeto de um Estado independente.