SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma técnica usada pela Nasa (agência espacial americana) no jipe-robô Curiosity para investigar o solo de Marte foi utilizado por cientistas brasileiros para detectar a presença de mercúrio no chorume de um aterro sanitário do interior paulista.
Desenvolvida pela Embrapa Instrumentação, em São Carlos, a técnica é conhecida pelo nome de espectroscopia de emissão ótica com plasma induzido por laser (Libs, na sigla em inglês) e vem sendo trabalhada pela pesquisadora Débora Milori. Os resultados foram publicados na revista “The Optical Society Journal Applied Optics”.
O primeiro passo é liofilizar o chorume para produzir pastilhas da substância.
“Usamos então um laser de alta energia numa amostra, que absorve a energia desse laser. Ela aquece e evapora, mas produz um vapor especial, que chamamos de plasma, gás formado por átomo, íons e elétrons. A partir da análise de plasma, conseguimos identificar os átomos da amostra e determinar seus elementos”, diz Milori.
Uma das vantagens da tecnologia utilizada pela Embrapa Instrumentação é ela ser considerada ambientalmente limpa, já que não requer a preparação da amostra por meio de reagente químicos.
Além disso, as “técnicas tradicionalmente usadas nesse tipo de análise demoram de quatro a cinco dias para gerar seus resultados. Com a Libs, conseguimos os resultados em cerca de um dia”, diz a pesquisadora da Embrapa.
Segundo ela, o estudo ainda é preliminar e o objetivo é acelerar ainda mais esse processo no futuro.
A pesquisadora também diz que uma das possibilidades a serem exploradas é utilizar a tecnologia de maneira portátil, de modo a permitir análises ‘in loco’, ou seja, fora do laboratório.
O Libs já tem sido empregado em outras situações. “Temos utilizado para análise do estado nutricional de plantas, para a quantificação de carbono no solo, a fertilidade do solo etc”.
No caso presente, no entanto, a técnica pode ter impacto direto na saúde das pessoas e no ambiente, já que o mercúrio é uma das substâncias mais tóxicas e prejudiciais para o solo. “Ela permite que os administradores de aterros públicos possam reagir rapidamente diante de uma contaminação”, afirma a pesquisadora.