GIULIANA MIRANDA LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – A lua de mel do governo de Portugal com a opinião pública -e a trégua dos partidos de oposição- chegou ao fim após quase dois anos da administração do primeiro-ministro socialista António Costa. Uma consequência direta da sucessão de incêndios florestais que deixaram mais de uma centena de mortos nos últimos quatro meses. Nesta terça (17), a líder do partido de direita CDS-PP, Assunção Cristas, anunciou que a legenda vai apresentar ao Parlamento uma moção de censura ao governo. O PSD, de centro-direita, manifestou apoio à medida. Na maioria dos governos parlamentaristas, como o de Portugal, a aprovação de uma moção de censura pode levar à demissão do governo em exercício. No caso português, para a moção ser vitoriosa, ela precisaria ser aprovada por maioria absoluta, com no mínimo 116 votos entre os 230 deputados. António Costa governa com uma inédita coalizão de partidos de esquerda, que tradicionalmente não dialogavam entre si. Considerada improvisada e um tanto frágil, a aliança entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português acabou apelidada de “geringonça” pela oposição. Mesmo assim, para analistas e entre os próprios deputados, a chance da moção de censura ser aprovada parece baixa. O que não impediu a deputada Assunção Cristas, que tenta se posicionar como o principal nome da oposição ao governo Costa, de demonstrar empenho no projeto. “Estamos a dar voz a muitas pessoas que por todo o país se indignam com um primeiro-ministro e um governo que não estão à altura das suas responsabilidades”, disse Cristas, em conversa com jornalistas após o anúncio, na sede de seu partido, em Lisboa. António Costa, cujos perfis nas redes sociais foram invadidos por críticas à atuação do governo nas questões dos incêndios, minimizou a manobra da oposição. “É um direito constitucional do CDS. A legitimidade do governo resulta da Assembleia da República. É perante a Assembleia da República que tem que responder. Faz parte da normalidade do funcionamento das nossas instituições”, afirmou o socialista. A moção deve ser votada pelo Parlamento na próxima terça-feira (24). FOGO CRUZADO Surfando na popularidade da melhora da economia e diminuição do desemprego, o governo de António Costa sofre sua primeira situação efetivamente problemática com o aumento da indignação popular com a dimensão dos incêndios florestais. As chamas são um problema recorrente no país, mas tiveram contornos dramáticos em 2017. O tempo excepcionalmente seco, o vento forte e a escassez de meios de combate, ajudou a espalhar as chamas, sobretudo no norte e no centro de Portugal. Segundo a Proteção Civil do país, o último domingo teve recorde de focos de incêndio e, nos últimos três dias, 41 mortes já foram confirmadas. Uma tragédia que chocou o país, especialmente por acontecer quatro meses após outras 64 pessoas morrerem, e mais de 200 ficarem feridas, em incêndios região de Pedrógão Grande. Relatórios divulgados nas última semanas aponto falhas na prevenção e no combate às chamas, mas a ministra responsável, Constança Urbano de Sousa (Administração Interna), já afirmou que não pretende pedir demissão.