CAMILA MATTOSO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O procurador da República Ângelo Goulart Villela afirmou que ouviu de Eduardo Pelella, chefe de gabinete de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, em abril, que o presidente Michel Temer poderia cair. Villela foi ouvido pela CPI da JBS. No dia desse encontro, o empresário Joesley Batista, da JBS, já havia feito a gravação escondida com Temer, e a Procuradoria já tinha conhecimento do conteúdo do áudio.

Vilella disse que a conversa aconteceu em um jantar em sua casa no fim do mês de abril. A delação dos executivos se tornou pública no dia 17 de maio. “Eduardo Pelella falou claramente isso na minha casa, em abril, que até a indicação do novo procurador-geral poderia haver um novo presidente. Mas ele não teceu mais nenhum comentário”, disse o procurador em rápida entrevista na tarde desta terça (17) após deixar a sessão da CPMI da JBS.

Villela repetiu declarações que deu à Folha de S.Paulo em setembro. Para ele, todo o processo de colaboração premiada foi uma trama do ex-procurador-geral com o objetivo de derrubar Temer e impedir a nomeação de Raquel Dodge no comando da PGR. Nesta terça, complementou dizendo que o ex-procurador-geral “agiu com o fígado em relação a mim” por ter se sentido traído ao achar que havia “bandeado” para o lado de Dodge.

A gravação de Temer desencadeou a maior crise política do governo e Janot apresentou duas denúncias contra o presidente por causa da colaboração da JBS. Villela foi alvo da Operação Patmos, decorrente da delação de Joesley, e ficou preso por 76 dias sem ser ouvido. Foi libertado após conseguir um habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele foi denunciado sob suspeita de corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução de Justiça. O procurador foi gravado pelo advogado e delator da JBS, Francisco Assis e Silva, em um jantar, no início de maio, na casa do advogado Willer Tomaz, também denunciado pelas mesmas acusações atribuídas a Villela.

Em delação, Joesley Batista afirmou que Villela teria recebido R$ 50 mil por mês para vazar informações, com o advogado como intermediário. Depois, afirmou não saber se o dinheiro chegava ao procurador. O procurador admite ter mandado um áudio de uma reunião fechada do Ministério Público, mas nega ter recebido propina e diz que tudo que fez foi para ter sucesso na negociação de uma delação com a JBS.