DANIEL BUARQUE LONDRES, INGLATERRA (FOLHAPRESS) – A ex-ministra Marina Silva (Rede), presidenciável nas eleições de 2018, criticou nesta quarta-feira (18) a decisão do Senado de revogar as medidas cautelares impostas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a Aécio Neves (PSDB-MG), na véspera. Questionada durante uma palestra realizada no King’s College de Londres, no Reino Unido, Marina atacou a união dos partidos que garantiram a manutenção do mandato de Aécio, citando especificamente o PT e o PSDB. “Infelizmente tivemos uma decisão em que o Congresso tem a última palavra sobre os investigados da Lava Jato. Nenhuma pessoa no Brasil pode fazer seu julgamento, a não ser os parlamentares, que têm foro privilegiado. Aécio recebeu indulto privilegiado”, disse. A porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade defendeu ainda a postura do seu partido na votação a respeito de Aécio. “Foi meu partido que votou pela sua cassação e entrou com uma ação para que o voto fosse transparente, e ninguém se escondesse para fazer alianças espúrias”, disse. Segundo ela, o fato de ter apoiado o então candidato do PSDB no segundo turno das eleições de 2014 não significa que ela tenha que manter esse apoio. “O processo político de 2014 foi muito difícil, em que havia o abuso do poder econômico. Além disso, houve um processo de desconstrução muito forte de adversários, e fui a maior vítima das duas forças políticas que fazem a maior polarização no Brasil, PT e PSDB. Naquele momento, não tínhamos todas as informações que temos hoje em relação nem a Dilma [Rousseff] nem a Aécio. Mantive a neutralidade em 2010, e em 2014 achei que seria importante ter a alternância de poder”, disse. Segundo Marina, o contexto atual é diferente. “PT e PSDB, que nunca se uniram para fazer nada juntos pelo Brasil, ainda que fossem dois partidos da social-democracia, agora estão unidos para combater o que nunca deveria ser combatido, que é a Lava Jato”, disse. Ela rejeitou, entretanto, que apenas um dos partidos seja alvo da luta contra a corrupção. “Não dá para fazer um campeonato de corrupção no Brasil. O PT está no pódio, o PSDB está no pódio, o PMDB está no pódio, e eles estão se acotovelando”, disse. Segundo ela, é preciso deixar de lado essa polarização entre os partidos para ter um projeto de governo conjunto para o Brasil. “Há pessoas boas em todos os partidos. Nem todas as pessoas do PT, do PSDB, do PMDB são desonestas. Mas as pessoas honestas estão no banco de reservas. A mudança que queremos não virá de um partido único. Não há um projeto de poder que só funcione com uma pessoa e um partido.” A apresentação da presidenciável em Londres foi tratada como sendo parte de uma “turnê do diálogo” pela Europa. Na viagem, ela participou de eventos com caráter político, mas também de eventos sobre questões de ambiente e inovação, no Reino Unido e na Holanda. Oficialmente, entretanto, não era um evento de campanha pensando em 2018, e Marina disse em entrevistas que ainda não é oficialmente candidata à Presidência. Falando à rede BBC, ela disse que terá uma posição sobre a eleição de 2018 “logo logo”. Ela disse ainda que as pesquisas de intenção de voto atuais ainda não refletem o contexto da eleição, que só acontece no próximo ano. Apesar de o principal tema de perguntas à ex-ministra terem sido sobre a crise política no Brasil, a palestra dela não tratou especificamente de questões de política, mas de sustentabilidade. Segundo Marina, o mundo está passando por uma “crise civilizatória”, composta por cinco grandes crises: econômica, social, ambiental, política e de valores. “Não é mais apenas o mal estar na civilização, é um mal estar da própria civilização”, disse. Para fazer uma transição rumo à sustentabilidade, disse, é preciso o mundo passar por uma mudança que inclua esforço de toda a civilização.