NATÁLIA CANCIAN BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) -Relator de uma comissão especial que analisa mudanças na lei dos planos de saúde, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) apresentou nesta quarta-feira (18) um parecer que prevê redução no valor das multas hoje pagas pelas operadoras em caso de negativa de atendimento ao consumidor ou descumprimento de prazos. O texto substitui outros 140 projetos sobre planos de saúde enviados à comissão, que tramita em regime de urgência.

Pela lei atual, operadoras que negam atendimento ou descumprem prazos fixados para oferta de consultas e exames estão sujeitas a multas entre R$ 5 mil e R$ 1 milhão. O parecer, porém, retira esse valor mínimo e propõe que as multas não ultrapassem dez vezes o valor do procedimento. Assim, se uma consulta custa R$ 80, o valor da multa seria de até R$ 800.

A medida, que atende a uma demanda das operadoras de planos de saúde, reduz o valor das penalidades cobradas. Para o relator, a mudança é necessária para “sobrevivência” dos planos, que deixariam de repassar os valores ao consumidor. “A multa deve ser pedagógica, mas não pode ser um valor que aumente a prestação do beneficiário”, afirma Marinho.

Já para Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP, a proposta acaba por estimular o descumprimento dos prazos. “A multa tem que ser alta para que os planos não pratiquem mais o abuso. Da forma como ficou, é um bom negócio para as operadoras”, afirma.

REAJUSTE PARA IDOSOS

Em outro trecho, o texto propõe um modelo de reajuste por faixa etária aplicado pelos planos de saúde ao consumidor. Em geral, a ideia é que o reajuste hoje aplicado aos 59 anos seja parcelado para os anos seguintes. Na prática, segundo especialistas, a proposta permite que a cobrança desse tipo de reajuste ocorra também para usuários com mais de 60 anos, o que hoje é vetado pelo Estatuto do Idoso. O relator nega. “A legislação hoje permite que a operadora aumente em até seis vezes o valor do idoso em relação a primeira faixa. Estamos definindo que esse valor não pode ser impactado de uma vez só”, afirma Marinho.

Para ele, a restrição de aplicar reajustes acaba por prejudicar o idoso, que recebe aumentos maiores aos 59 anos. “O próprio Estatuto do Idoso, ao proteger o idoso, desprotegeu. Se der a oportunidade de diluir esse aumento, fica mais justo para a operadora e para o consumidor, que muitas vezes é obrigado a sair do plano por não ter condições de se manter nele.” Já para Scheffer, a mudança traz riscos para idosos e pode aumentar o volume de processos judiciais que questionam reajustes, a maioria tido como abusivo. “Depois dos 60 anos, as pessoas perdem rendimentos e aumentam os gastos em saúde”, diz. “É preciso conter esses reajustes abusivos.”

RESSARCIMENTO AO SUS

O projeto também traz ainda mudanças no ressarcimento ao SUS, o que ocorre quando usuários de planos de saúde são atendidos na rede pública. A cobrança visa evitar que as operadoras de planos de saúde deixem de ofertar ao usuário os serviços que estavam contratados, obrigando o paciente a ter que recorrer ao SUS. Atualmente, os valores são direcionados ao Fundo Nacional de Saúde. Já a proposta defende que os recursos sejam direcionados diretamente aos Estados. Embora seja um pleito antigo de governadores, para quem há prejuízos com o atendimento, a medida é alvo de crítica de especialistas em saúde pública. “O ressarcimento abre espaço para a dupla porta”, afirma Scheffer, referindo-se à expressão usada para qualificar o atendimento diferenciado ao usuário do SUS e dos planos de saúde nos hospitais.

PLANOS INDIVIDUAIS

Ao mesmo tempo em que gera críticas, o parecer também traz alguns pontos que eram demandados por consumidores. É o caso obrigatoriedade da oferta de planos individuais por todas as operadoras, oferta que vem diminuindo nos últimos anos. Hoje, 80% dos planos são coletivos e empresariais, situação que gera dificuldades sobretudo para idosos, que não têm vínculo com empresas. Outra proposta é a possibilidade de desconto para usuários que participarem de programas de prevenção de doenças ofertados pelas operadoras, estímulo ao parto normal e a possibilidade de oferta de vacinas não incluídas no SUS. A previsão é que o projeto seja votado até dia 8 de novembro.