DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O diretor da organização humanitária israelense B’Tselem afirmou em entrevista recente que a ocupação da Cisjordânia é um projeto nacional de Israel. O cônsul-geral de Israel em São Paulo, Dori Goren, discorda.
“Se fosse, Israel teria anexado a Cisjordânia há anos”, afirma Goren, 62. “O país não fez isso justamente porque a política oficial do governo é que a solução tem que ser negociada com os palestinos.”
Israel tomou o controle da Cisjordânia na Guerra dos Seis Dias (1967). Esperava-se que a ocupação fosse temporária, mas perdurou. Uma razão para isso, diz Goren, é a dificuldade das negociações: os palestinos recusaram ofertas de Israel em 2000 e 2008.

Pergunta – A ocupação da Cisjordânia é um projeto nacional, como diz a B’Tselem?
Dori Goren – Não há projeto de ocupação. Se fosse um projeto nacional, Israel teria anexado a Cisjordânia há anos. O país não fez isso justamente porque a política oficial do governo é que a solução tem que ser negociada com os palestinos. Deveria haver uma solução de dois Estados.

Após 50 anos, por que ainda não foi resolvido?
– Muitos nos perguntamos isso. Fui soldado de Israel e desde jovem esperava ter paz. Meu filho acabou de terminar o serviço militar. Não é uma experiência agradável para nenhum jovem. É uma tragédia não haver acordo, negociação. Se o diretor do B’Tselem fosse premiê de Israel, com todas suas opiniões políticas, tampouco conseguiria um acordo com os palestinos.

Falta vontade política do lado palestino?
– Não sei se é vontade. Mas, nas últimas negociações, cada vez que Israel fez uma proposta, não aceitaram nem apresentaram contraproposta. Se quisessem solução, poderíamos chegar a ela. Não é que Israel queira ficar nos territórios. Mas há condições, como os palestinos reconhecerem Israel como Estado judeu. Eles negam. É um dos problemas que impedem as negociações.
Palestinos exigem o direito de retorno dos refugiados.
Eles insistem que têm direito a voltar às casas que tinham antes da guerra de 1948. Então o que está sobre a mesa não é o resultado da Guerra dos Seis Dias, de 1967, [quando a Cisjordânia foi ocupada], mas da independência em 1948.

Há preocupações israelenses quanto à segurança?
– Estamos lá porque não temos saída. Não queremos ficar nessa situação anormal, mas não podemos optar por uma retirada unilateral. Saímos de Gaza unilateralmente em 2005 e o resultado foi que a organização terrorista Hamas tomou o controle de Gaza e desde então ataca Israel sem parar.
Não podemos nos esquecer de que estamos em uma vizinhança muito violenta. Acha que eu estou feliz que meu filho tenha cumprido seu serviço militar em Hebron? Mas a realidade é complexa.

Os assentamentos não são um projeto de longo prazo?
– Faz anos que não se constroem assentamentos. A construção que há é porque a população dos assentamentos já existentes está crescendo. E existe um debate em Israel que não pode ser negado sobre os territórios que fazem parte da “Israel histórica”.

O que seria a Israel histórica?
– O povo judeu nasceu em Hebron. Negar os laços do povo judeu com Hebron ou Jerusalém é absurdo.
A situação o incomoda? O B’Tselem diz que israelenses e palestinos são julgados por tribunais diferentes.
Incomoda a todos. É uma realidade construída durante anos por uma situação que não foi resolvida. Mas o fato de haver uma organização como o B’Tselem, sempre alerta e informando as autoridades israelenses, diz bem sobre a democracia israelense.

O B’Tselem alega que Israel não é uma democracia.
– É a opinião deles. Todos os cidadãos votam, incluindo os árabes. Os palestinos na Cisjordânia podem e deveriam ter democracia, votando para escolher autoridades palestinas. Mas há mais de dez anos não há eleição ali.