SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A poucos dias das eleições legislativas deste domingo (22), a aparição de um corpo no rio Chubut na terça-feira (17), na Patagônia argentina, colocou fogo na campanha eleitoral no país.
A região vem sendo investigada desde o dia 1º de agosto, data na qual o artesão Santiago Maldonado, 28, desapareceu após um enfrentamento entre a Gendarmeria (a polícia federal de fronteiras) e um grupo de ativistas indígenas mapuche.
Maldonado, 28, vivia uma vida nômade como tatuador e vendedor de artesanato. Quando soube que haveria mais um protesto na região de Chubut que os mapuche disputam com a empresa italiana Benetton, foi ao local para apoiar os indígenas.
Testemunhas declaram ter visto Maldonado sendo levado, com vida, pelos policiais.
O caso virou um escândalo nacional porque a força pública negou ter o homem sob custódia. Ele, porém, não reapareceu em nenhum lugar –e nem mesmo seu corpo foi encontrado.
A Gendarmeria responde diretamente à Secretaria de Segurança, vinculada ao poder Executivo. Por conta disso, seus atos são relacionados diretamente às decisões do presidente.
A família de Maldonado iniciou uma busca e convocou manifestações de protestos que reuniram milhares de pessoas em Buenos Aires e em outras cidades.
O desaparecimento ganhou cores políticas. Os aliados da ex-presidente Cristina Kirchner passaram a acusar a Gendarmeria de ter matado Maldonado e escondido seu corpo, transformando-o no “primeiro desaparecido político” do governo do presidente Mauricio Macri, que alguns opositores comparam à ditadura militar (1976-1983).
Cartazes com o rosto do artesão passaram a ocupar vários muros da cidade, assim como o grito de “Onde Está Santiago Maldonado?” não se restringiu aos protestos e foi ouvido em concertos, teatros, e virou “hashtag” nas redes sociais.
Já o governo negou que tivesse o artesão sob custódia e ordenou buscas diárias no local do desaparecimento. Também foram levantadas outras hipóteses, como a de que ele teria fugido para o Chile, que teria ficado feriado e acabou levado pelas águas do rio Chubut ou a de que o grupo de mapuches o escondeu para prejudicar a imagem do governo.
IMPACTO POLÍTICO
Ainda deve demorar pelo menos uma semana para que se identifique o corpo encontrado no rio Chubut, que passará por uma autópsia.
Ele foi transportado na quarta-feira (18) a Buenos Aires, e está sendo analisado pela Equipe Argentina de Antropologia Forense.
A expectativa ocupa os meios de comunicação, as redes sociais e as conversas entre amigos.
Afinal, o cadáver –que tem tatuagens como as de Maldonado– foi encontrado a apenas 250 metros do local do desaparecimento, em um local onde já tinham ocorrido buscas pelo corpo.
A família de Maldonado afirmou que acha “suspeito” o fato de o corpo aparecer no local. Com isso, levantou a hipótese de que ele possa ter sido guardado em algum lugar durante todo esse tempo e deixado no rio Chabut apenas nos últimos dias.
O governo, preocupado com o impacto que a aparição do corpo de Maldonado terá na população, encomendou uma pesquisa por telefone junto a eleitores. A atitude foi classificada como “fria” e “desumana” pela deputada e candidata de oposição Margarita Stolbizer e repudiada pelos kirchneristas.