NATÁLIA CANCIAN
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou nesta segunda-feira (23) que a morte de macacos na região do Horto Florestal, em São Paulo, indica a aproximação de um “novo ciclo” de febre amarela após o surto
Questionado pela reportagem, Barros nega uma mudança na avaliação da pasta, que declarou há um mês o fim do surto de febre amarela iniciado em dezembro e considerado o pior já registrado no Brasil desde 1980. Para ele, o que há é a possibilidade de um “novo ciclo” da doença.
“Tecnicamente não muda a avaliação [sobre o fim do surto] porque ficamos 90 dias sem registrar casos e isso indica o encerramento. Agora temos um novo ciclo pela frente que esperamos enfrentar com mais cuidado. Como houve o surto do ano passado, estão todos muito mais alertas e por isso medidas serão tomadas preventivamente”, disse, após um evento na sede da pasta sobre câncer de mama.
Segundo Barros, a pasta deve disponibilizar 1,5 milhão de doses extras da vacina para reforçar os estoques de São Paulo e atender emergências ou um possível aumento na procura por vacinas nas unidades de saúde.
“Vamos dispor de mais 1,5 milhão de doses [além de 1,5 milhão de doses que SP já tem em estoque] para qualquer necessidade e para atender fluxo espontâneo da população”, disse.
A medida, diz, segue exemplo do que ocorreu neste ano no Rio de Janeiro, quando a morte de macacos levou a um aumento na demanda espontânea por vacinas e gerou receio de falta de vacinas. “Vacinamos 2 milhões de pessoas no Rio de Janeiro sem que houvesse recomendação, mas porque foram procurar a vacina. Da mesma forma, em SP pode ter demanda maior e espontânea da população fora daquela área determinada.”
De acordo com o ministro, o prazo para entrega depende das condições para estoque. Reforço semelhante, diz, deve ocorrer em outros Estados caso sejam observadas a ocorrência de novas epizootias por febre amarela. O termo é usado para definir a morte de macacos pela doença, o que indica que há circulação do vírus na região, transmitido pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes.
“Nossa expectativa é que isso ocorra também em outros Estados. O mosquito está permanentemente instalado na mata e esse tipo de episódio ocorre sistematicamente. Haverá um excesso de zelo necessário e que apoiamos em relação a evitar novos surtos”, informou.
VACINAÇÃO EM SP
Após a morte de cinco macacos, o governo de São Paulo recomendou nesta segunda-feira (23) a vacinação contra a febre amarela em três bairros da zona norte da capital: Casa Verde, Tremembé e Vila Nova Cachoeirinha.
Os três bairros estão numa região da cidade cuja população atinge 447.461 habitantes, segundo a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e todos fazem divisa com o horto florestal. Segundo o secretário David Uip (Saúde), foi levada em consideração a distância que pode ser percorrida pelo mosquito transmissor, de 500 metros a partir do horto florestal.
No local, foram encontrados cinco animais mortos no último mês. Um deles teve confirmação de febre amarela. Dois estão em investigação e, no caso de três macacos, o estado do cadáver não permite uma análise do caso.
Neste ano, houve 22 casos e 10 mortes por febre amarela silvestre no Estado de São Paulo. O surto que atingiu o país neste ano foi o maior com número de casos em humanos desde 1980. Entre dezembro e junho, foram confirmados 777 casos e 261 mortes por febre amarela no país.

PREVENÇÃO
Vacinação
– Crianças: a partir dos 9 meses (6 meses em áreas de risco)
– Adultos não vacinados: uma dose
Para evitar picadas
– Repelente (evitar os que também têm protetor solar)
– Aplicar o protetor antes do repelente
– Não usar repelentes em crianças com menos de 2 meses
– Evitar perfume em áreas de mata
– Roupas compridas e claras (ou com permetrina)
– Mosqueteiros e telas
Controle do mosquito
– Evitar água parada e tomar os mesmos cuidados da dengue, porque há risco de a doença ser contraída pelo Aedes aegypti (o que não acontece no Brasil desde 1942)
Distância de áreas de risco
– Evitar áreas de mata com registros da doença; caso vá viajar a esses locais, tome a vacina ao menos dez dias antes
Tratamento – É apenas sintomático, com antitérmicos e analgésicos (anti-inflamatórios e salicilatos como AAS não devem ser usados)
– Hospitalização quando necessário, com reposição de líquidos e perdas sanguíneas
– Uso de tela, por exemplo, para evitar o contato do doente com mosquitos