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TONY GOES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Walcyr Carrasco é o mais prolífico autor de novelas da Globo, e o único que já emplacou sucessos em todos os horários. Coube a ele a tarefa de substituir “A Força do Querer”, encerrada na sexta passada (20).
A obra de Glória Perez não chegou a ser uma revolução no gênero, mas trouxe assuntos contemporâneos para a faixa das 21 horas. Falou em transexualidade, vício em jogo e narcotráfico, sem deixar de ser um folhetim desvairado.
Já “O Outro Lado do Paraíso”, pelo menos em seu primeiro capítulo, seguiu por um caminho mais tradicional. Quase todo o primeiro bloco foi usado para apresentar os vértices do triângulo amoroso central: a bondosa professora Clara (Bianca Bin), que dá aulas em um quilombo, e seus dois pretendentes, o médico altruísta Renato (Rafael Cardoso) e o playboy enfezado Gael (Sérgio Guizé). Um clichê e tanto, resplandecendo ao sol do Tocantins.
No segundo bloco, foi introduzida uma subtrama que parece saída diretamente de uma radionovela cubana da década de 1950: o magnata Natanael (Juca de Oliveira) quer separar seu filho Henrique (Emilio de Mello) da esposa Beth (Glória Pires), por ela não estar “à altura” dele. Não importa que o casal já esteja na meia-idade, e junto há pelo menos dez anos.
Só no terceiro bloco surgiu Sophia (Marieta Severo), a grande vilã, mãe de Gael e futura inimiga de Clara. Segundo a sinopse divulgada pela emissora, ela não hesitará em mandar internar a nora, que também não estaria “à altura” de seu filho.
Sophia também manifestou cobiça pelas esmeraldas descobertas no humilde sítio onde vivem Clara e seu avô Josafá (Lima Duarte). Foi por causa delas que morreu o pai, Jonas (Eucir de Souza), em uma sequência eletrizante que culminou em uma explosão dentro de uma mina, logo após os créditos de abertura.
Nenhum dos personagens demonstrou grande complexidade. Quem é bom parece ser apenas bom, e quem é mau, apenas mau. Neste ponto, Carrasco vai contra a tendência em vigor entre os autores mais jovens da Globo, que vêm criando tipos cada vez mais ambíguos e interessantes.
Cabe ressaltar, no entanto, o tratamento moderno que o diretor-geral Mauro Mendonça Filho está dando a este novelão à moda antiga, com ótimo aproveitamento das paisagens do Jalapão (TO) e inusitados ângulos de câmera.
Mas o visual arrojado não esconde o que “O Outro Lado de Paraíso” de fato é: uma versão atual do mais manjado enredo novelesco, a mocinha injustiçada que volta para se vingar. É provável que dê muita audiência, embora não inove em absolutamente nada.
Primeiro episódio de “O Outro Lado do Paraíso” (regular)