Bruna Rezende e Filipe Banov, recém-casados, queriam transformar a lua de mel numa experiência de vida única. Melissa Fernández e Wendell Caldas esperavam dedicar o ano sabático a conhecer lugares, culturas e pessoas. O ciclista britânico Mark Beaumont perseguia o recorde mundial da volta ao mundo de bicicleta – e o conquistou em 18 de setembro, depois de pedalar por 16 países de quatro continentes e retornar a Paris depois de 78 dias e 14 horas.

Cada um tem seus motivos e seu jeito de dar a volta ao mundo. É uma viagem icônica na vida de qualquer turista. Partir de um ponto do planeta e seguir sempre em frente até retornar ao local de partida é uma aventura que, já no século 19, motivou o escritor francês Júlio Verne (1828-1905) a escrever A Volta ao Mundo em 80 Dias. O livro foi publicado em 1873. São 144 anos inspirando viajantes para a grande aventura.

Aventura que, hoje, pode ser feita de muitas formas e até mesmo em um simples mês de férias. Entre as várias opções de roteiros, há trens, cruzeiros e, para quem pode gastar, os jatos privados combinados a hotéis de luxo (leia detalhes ao longo desta reportagem).

Na versão econômica, a operadora CVC começou a vender passagens de volta ao mundo parceladas em até 10 vezes sem juros. Os preços começam em US$ 3.500, com cinco paradas e uma distância de até 26 mil milhas (41,8 mil quilômetros). Para se ter uma ideia, esta distância permite fazer uma volta temática pelas Sete Maravilhas do Mundo Moderno: Cristo Redentor (no Rio de Janeiro), Petra (Jordânia), Coliseu (Roma), Taja Mahal (Índia), Grande Muralha da China, Chichen Itzá (México) e Machu Picchu (Peru).

Está longe de ser uma viagem barata, claro. Mas fazê-la acontecer também é uma questão de planejamento. Bruna e Filipe guardaram dinheiro por três anos, economizando em tudo. Melissa e Wendell pouparam pelo mesmo período e ainda venderam carros e equipamentos eletrônicos.

Para onde ir? Definir o roteiro é a parte pessoal e intransferível da viagem. Além de priorizar o verão por causa do tempo bom nos lugares, Melissa e Wendell estabeleceram pontos fundamentais da viagem – estar no Japão para passar o Natal com familiares que moram no país foi um deles – e organizaram as paradas anteriores seguindo essa exigência.

De resto, é planejar, se encher de coragem e ir. Até há por aí quem acredite que a Terra é plana. Mas o fato é que nosso planeta é redondíssimo – e está aí para ser desbravado. Comece já a preparar a sua volta.


Depoimento

Guardamos dinheiro. Meu namorado na época era economista e fez alguns investimentos. O planejamento incluiu toda e qualquer despesa: passagens, hospedagens, passeios, vistos, vacinas, alimentação, seguro. Vendemos algumas coisas antes de viajar, como carros e eletrônicos, o que também ajudou.

Quanto ao roteiro, tentamos passar o máximo possível por lugares com tempo bom. A ideia era ver a vida das pessoas, conhecer a cultura e, em muitos lugares, quando é época de frio, neve ou chuva, as pessoas se fecham na toca. Minha dica é: se permita. Interaja, busque experiências diferentes. O ponto alto da viagem para mim foi um retiro na Tailândia de meditação e silencio absoluto. Me mudou muito.

(Melissa Fernández, 39 anos, gerente de marketing. Viajou por 360 dias, de abril de 2016 a abril de 2017. Site: Lessborders com)


Monte um roteiro com a sua cara

No começo, Bruna Rezende e Filipe Banov consideraram a passagem aérea de volta ao mundo como opção com bom custo-benefício para a viagem, que começou há nove meses e não tem data para acabar. Mas as exigências de um itinerário definido e prazo máximo de um ano para completar o trajeto se mostraram inadequados aos planos do casal de viajar devagar, com possibilidade de alterar o itinerário. Assim, voaram de São Paulo a Buenos Aires e, a partir daí, fizeram mais de 40 trechos pela América do Sul de ônibus, comprando tudo durante a viagem – inclusive trechos aéreos como da Colômbia ao Panamá. Viajar de forma independente, cuidando de cada milha do seu roteiro, dá trabalho. Mas é possível, sim. Confira.

Deslocamentos
Se decidir pesquisar trecho a trecho as passagens aéreas, lembre-se de que as empresas low cost geralmente voam a aeroportos secundários, mais distantes. Inclua o transporte para chegar ao centro da cidade no orçamento.
Considere também outros meios de locomoção. O trecho aéreo Budapeste-Praga com a Czech Airlines começa em US$ 109; de trem, desde US$ 35 – e nem é preciso comprar com antecedência. Na Nova Zelândia, com o passe InterCity Flexi Pass compra-se uma quantidade de horas de viagens de ônibus, entre 15 (por 125 dólares neozelandeses, cerca de R$ 85) e 60 horas (459 dólares neozelandeses, R$ 315). Depois, é só agendar no site (bit ly/intercitypass) antes de embarcar.

Hospedagem
Meios alternativos de hospedagem ajudam a economizar. A plataforma Couchsurfing tem 400 mil anfitriões que recebem gratuitamente em suas casas cerca de 4 milhões de viajantes. No Airbnb, são 4 milhões de quartos e imóveis para aluguéis de temporada em 191 países. Já o Workaway.info ajuda a trocar trabalho temporário por hospedagem e alimentação; são 23 mil anfitriões em 170 países.
Grandes cadeias hoteleiras têm programas de pontos que, assim como as milhas aéreas, podem render descontos e gratuidades. Vale concentrar hospedagens em hotéis e resorts da mesma rede. A Starwood tem 2.100 hotéis pelo mundo (Marriott, Westin, Sheraton e outros). A Accor mantém o programa Le Club e tem 3.400 hotéis como Sofitel, Mercure e Ibis.


DICAS DE OURO

1. PARA LESTE OU OESTE?
Oeste. Por causa dos fusos horários, a viagem no sentido leste tem a desvantagem de roubar horas do dia (e de sono) a cada deslocamento para a frente.
Indo para o oeste, você enfrenta uma primeira mudança brusca de fuso – já que, depois de cruzar o Pacífico, vai começar as escalas na Oceania ou na Ásia – mas, superado este primeiro jet lag, todas as mudanças seguintes serão bem mais suaves e vários dias terão duração maior do que 24 horas.

2. DOCUMENTOS EM DIA
O passaporte precisa ter seis meses de validade sobrando após o fim da viagem. Se não for o caso do seu, renove. Pense nos vistos: veja a lista de países que exigem visto dos turistas brasileiros no Portal Consular do Ministério das Relações Exteriores (bit.ly/precisadevisto).
Em relação à saúde, o site Medicina do Viajante, do Instituto Emílio Ribas, dá orientações sobre vacinas, mas vale a pena ir pessoalmente a uma consulta para receber orientações precisas sobre todas as áreas incluídas no seu roteiro: bit ly/vacinasdoviajante.
Atenção ao seguro viagem: pesquise várias opões e não esqueça de incluir possíveis atividades radicais, como mergulho e esqui.

3. ATENÇÃO ÀS MILHAS
Imagine quantas milhas dá para juntar numa viagem de volta ao mundo feita de avião, ainda mais se você usar o cartão de crédito (e pagar o total da fatura em dia, sempre). Pense nisso ao escolher as empresas pelas quais vai voar e concentre todos os pontos em um único programa. Você vai voltar para casa com milhas suficientes para já pensar numa próxima viagem.

4. FRANQUIA DE BAGAGEM
Mesmo na passagem de volta ao mundo vendida pelas alianças aéreas não há regularidade na franquia de bagagem incluída no valor no caso das classes econômicas.
Assim, viajar leve é indispensável para não pagar excesso de bagagem, já que cada empresa tem suas próprias regras, que podem mudar de lugar para lugar. Limite-se a uma mala de até 20 quilos e uma bolsa ou mochila.

5. COMO LEVAR DINHEIRO
Simplifique. Vale comprar no Brasil euros para os trechos europeus e libras para o Reino Unido. Para todo o resto, dólar americano. É moeda forte e tem liquidez para ser trocada pelo dinheiro local no planeta inteiro. Atenção: quem sai do Brasil com valor igual ou superior a R$ 10 mil ou o equivalente em outra moeda deve declarar à Receita Federal.
O dinheiro em espécie paga menos Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), que é de 1,1%, mas é menos seguro. Numa viagem longa, é quase impossível evitar o uso de cartões, cujo IOF é de 6,38%. O cartão pré-pago ajuda a controlar os gastos. A Confidence (bit.ly/cprepago) tem opção de cartão Multi Moeda, que pode ser carregado simultaneamente com até seis moedas – dólares americano, canadense, neozelandês e australiano, mais libra e euro – até um limite de 10 mil unidades das moedas escolhidas.