SILAS MARTÍ
NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Longe do parque Highbridge ou de cantos mais perigosos de Nova York onde centenas vêm perdendo a vida na guerra contra a epidemia dos opioides, cenários suntuosos estão alicerçados na imensa fortuna gerada pela droga que detonou toda essa crise.
Uma ala inteira do Metropolitan, um dos maiores museus de arte do planeta, e o centro de arte feminista do Brooklyn Museum, outra instituição adorada pelo jet-set, foram batizados com o nome da família Sackler, um dos clãs mais poderosos do mecenato nos EUA.
Esse sobrenome, no entanto, jamais aparece associado à Purdue Pharma, empresa farmacêutica por trás do OxyContin, o primeiro de uma série de analgésicos ultrapotentes à base de opiáceos que dominou o mercado.
Duas vezes mais forte que a morfina, o comprimido foi lançado há quase 20 anos como uma espécie de alívio milagroso para a dor crônica e casos de pacientes terminais.
Mas uma campanha de marketing habilidosa, envolvendo financiamentos escusos de pesquisas científicas com o objetivo de convencer médicos a receitar a droga sempre que possível, ampliou o leque de usos desse medicamento a ponto de criar uma legião de viciados.
De acordo com autoridades americanas, 200 mil pessoas morreram de overdose de OxyContin desde o surgimento do remédio em 1999.
Do outro lado do balcão, a droga rendeu mais de US$ 35 bilhões à família Sackler, que com isso acabou ficando mais rica do que dinastias históricas americanas, entre elas as famílias Mellon e Rockefeller.
“Há mais receitas para esse tipo de droga em circulação por aí do que o número de adultos em todo o país”, afirma Keith Humphreys, estudioso da crise dos opioides na Universidade Stanford.
“Nossa indústria farmacêutica enfiou suas garras nos médicos, nas agências reguladoras e nos hospitais para convencer todo mundo que era necessário receitar esses remédios num nível sem precedentes, mas isso abriu as portas para os traficantes de heroína e depois fentanila.”