SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As conversas para a formação de uma coalizão para um novo governo da Alemanha entraram em colapso neste domingo (19) com a saída de um dos partidos da mesa de negociações. O FDP (liberais) abandonou o barco citando “diferenças irreconciliáveis”.
A chanceler Angela Merkel havia determinado que as discussões de prolongassem até 18h (horário local) de domingo, depois que o primeiro prazo, que ia até a última quinta-feira, expirou.
A União Democrata-Cristão (CDU), da chanceler, a CSU, sua legenda-irmã na Baviera, os liberais do FDP e os Verdes tentavam há quatro semanas formar a chamada coalizão “Jamaica” —assim apelidada porque as cores dos partidos lembram as cores da bandeira do país caribenho.
“Hoje não só não houve progressos como houve retrocessos porque compromissos específicos foram questionados”, afirmou o líder do FDP, Christian Lindner.
Merkel agora tem três opções. Uma é tentar formar uma coalizão minoritária com os Verdes.
A segunda é tentar obter uma coalizão com seu antigo parceiro, o Partido Social-Democrata (SPD) —que no entanto já afirmou que quer passar para a oposição.
O líder do partido, Martin Schulz, rejeitou neste domingo a possibilidade de negociar com Merkel.
A terceira opção é dissolver o Parlamento e convocar eleições em dois meses —algo sem precedentes na Alemanha do pós-Guerra.
Segundo a imprensa alemã, o principal obstáculo que permanece para um acordo é a questão imigratória. CSU e CDU querem impor uma cota de 200 mil refugiados a serem recebidos pelo país por ano, incluídas aí as reunificações familiares de refugiados. O FDP aceitava a proposta.
Os Verdes são contrários à proposta e querem que as reunificações familiares fiquem de fora da cota, por acreditarem que se trate de uma questão humanitária.
A questão imigratória —com a entrada de cerca de um milhão de refugiados em 2015 na Alemanha após a adoção de um política de portas abertas por Merkel—
acabou levando a uma vitória sem precedentes do direita populista nas eleições de setembro do ano passado, às custas da CDU e CSU.
“Todos querem levar um sucesso para casa”, disse Julio Klöckner, vice-líder da CDU, salientando as dificuldades de se chegar a um consenso, antes do anúncio do rompimento das conversas. “As pessoas devem se perguntar se eles estão preparados para um fracasso por conta de detalhes.”
Klöckner pediu que os Verdes considerem, em nome de um acordo, o direito de reunião apenas “subsidiário”.
“Os partidos não podem ir [para uma negociação] com demandas máximas”, afirmou o co-líder dos Verdes, Cem Ozdemir.
“Eles têm de estar preparados, por responsabilidade, ou patriotismo, a mudar. Nós fizemos isso em muitas áreas, até chegar ao ponto da dor.”
Muitos temem que novas eleições acabem dando ainda mais força para os populistas de direita, especialmente a Alternativa para a Alemanha (AfD), que obteve 92 assentos em setembro com uma plataforma anti-imigração, anti-islã e anti-Europa. Podem ainda prejudicar a posição do euro.
Na última quinta-feira, a co-líder da AfD, Alice Weidel, afirmou que, se os partidos não conseguissem chegar logo a um acordo, novas eleições deveriam ser convocadas o quanto antes.