SYLVIA COLOMBO, ENVIADA ESPECIAL
SANTIAGO, CHILE (FOLHAPRESS) – O ex-presidente de centro-direita Sebastián Piñera, 67, vencedor do primeiro turno da eleição chilena, disse nesta segunda-feira (20) em entrevista a jornalistas estrangeiros que o país está em uma encruzilhada, “em que terá de escolher entre continuar no mau caminho em que está e um caminho que nos leve a tempos melhores, que é a minha candidatura”.
E reforçou que a grande diferença entre sua gestão anterior (2010-2014) e o atual governo é que “vínhamos de crescer 5% para crescer agora pouco mais de 1%. Se eu for eleito, nós vamos voltar àquele ritmo”.
Com relação a ter tido um desempenho nove pontos percentuais abaixo do que projetavam as pesquisas -que lhe davam 45%, enquanto obteve 36%- Piñera disse que não se tratava de um problema.
“Eu sempre achei que essa eleição se definiria num segundo turno. Quanto ao número de votos, é praticamente o mesmo que consegui no primeiro turno de 2009, e depois ganhei a eleição.”
Piñera disse que contava com os votos dos eleitores do ultra-direitista José Antonio Kast (que obteve 8%), mas que isso não significa que fará, nesta campanha para o segundo turno, um movimento mais à direita.
“Não vou me direitizar, nem me esquerdizar. Minhas propostas são as mesmas, integrar o Chile ao mundo, recuperar o crescimento econômico, dar mais atenção às regiões e à classe média e mais humilde, além de resgatar os valores da família e dos direitos humanos.”
Indagado pela Folha sobre um ponto caro à agenda de Kast, que é a revogação da recém-aprovada Lei do Aborto (que permite o recurso em casos de estupro, má-formação do feto ou risco de vida da mãe), Piñera disse que não proporia derrubar a lei.
“Mas nós vamos melhorá-la. Por exemplo, oferecendo à mãe uma alternativa ao aborto, um acompanhamento à mulher que tem uma gravidez vulnerável, por exemplo, para que ela tenha mais capacidade de escolher.”
Sobre o fato de o Chile não contar com uma lei do casamento homossexual -apenas união civil&-, Piñera disse que “não se deve discriminar os casais. Eu considero que o matrimônio tradicional é entre um homem e uma mulher. Mas os outros casais não casados, seja heterossexuais ou homossexuais, devem ter seus direitos garantidos pela lei”.
Piñera disputará o segundo turno, no próximo dia 17 de dezembro, contra o jornalista e senador por Antofagasta Alejandro Guillier, 64.
Sobre a grande surpresa desta eleição, a boa votação da candidata da esquerdista Frente Ampla, Beatriz Sánchez, 46, que teve 20% dos votos e quase desbancou Guillier, Piñera disse: “Foi uma surpresa e uma boa eleição a de Beatriz. Eu a felicito. Conheço a ela e a Guillier. Mas eu tenho mais experiência, eu comandei Chile por quatro anos”.
Em relação ao tema da imigração, que vem crescendo nos últimos anos, principalmente devido ao grande número de haitianos e venezuelanos que chegam ao Chile, Piñera defendeu mudar a lei atual.
“Somos um país aberto, mas nossa lei é obsoleta, e nós temos que moderniza-la. Temos que deixar entrar os que vêm aportar, mas ser mais exigentes e evitar a entrada dos que vêm causar dano e trazer o narcotráfico, como ocorre hoje.”
Bem humorado, o candidato não deixou de soltar suas piadas, já famosas por situarem-se numa tênue linha entre a graça e a gafe. No começo da entrevista, por exemplo, perguntou se os jornalistas que ficaram na fila de trás no salão tinham “levado cotoveladas dos que se sentaram na frente”.
Depois, ao final, quando avisado de que haveria tempo para apenas mais duas perguntas, disse: “Se forem de mulheres, respondo, senão encerramos”, e riu.