DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Um dia após o colapso das negociações para formar a próxima coalizão de governo do país, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou nesta segunda (20) que prefere realizar novas eleições a liderar um governo de minoria, em um sinal de que o país que foi às urnas em setembro pode voltar a fazê-lo em breve.
“Não quero dizer nunca [liderarei um governo de minoria], mas estou bastante cética e acho que novas eleições seriam a melhor forma de avançar”, declarou à ARD.
Em entrevista a uma rede de TV, Merkel disse não ver razões para renunciar ao cargo, que ocupa há 12 anos.
A chanceler vive nesta semana a crise política mais severa das últimas décadas, que põe em risco seu quarto mandato. O partido liberal FDP abandonou no domingo (19) as negociações com a sigla de Merkel, a CDU (União Democrata-Cristã). Participavam também das tratativas a CSU (sigla-irmã da CDU na Baviera) e os Verdes.
Com a saída do FDP, as conversas desmoronaram, deixando poucas opções para que a chanceler forme seu próximo governo. Diante da declaração de que prefere eleições a governar em minoria, fica cada vez mais provável o retorno às urnas.
Por outro lado, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, havia pedido mais cedo nesta segunda que os grandes partidos reconsiderassem as suas posições e dialogassem.
“Haveria grande preocupação se as forças políticas no país com a economia mais forte da Europa não conseguissem cumprir com suas responsabilidades”, afirmou.
O presidente deve se reunir com os líderes das siglas nesta semana.
Irreconciliáveis
Após uma maratona de negociações no final de semana, Christian Lindner, líder da sigla liberal FDP, afirmou que as posições dos partidos eram irreconciliáveis e disse também que “é melhor não governar do que governar de uma maneira errada”.
FDP e Verdes têm uma série de divergências sobre questões fundamentais.
A sigla liberal é contrária, por exemplo, à vinda das famílias dos migrantes já instalados na Alemanha, algo que os Verdes defendem. O FDP também discorda da proposta dos Verdes para reduzir mais drasticamente as emissões de carbono no país.
Merkel, que se reuniu com o presidente Steinmeier antes de ele fazer a declaração, enfrenta uma situação inédita em que sobram poucas opções para evitar eleições.
A primeira saída seria um governo do CDU com os Verdes, em minoria. Isso significa que Merkel precisaria negociar o apoio de pequenos partidos no Parlamento a cada votação pela qual passasse –foi essa a opção que ela descartou na entrevista.
Outra possibilidade é governar mais uma vez com seu principal rival, o SPD (Partido Social-Democrata).
Essa aliança entre CDU e SPD é conhecida como “grande coalizão”, e é dessa maneira que Merkel vem governando nos últimos anos.
Mas o SPD, que é de centro-esquerda, deixou claro desde as eleições de setembro que já não tem interesse na parceria com o partido conservador. Depois de um resultado historicamente ruim no último pleito, o partido afirma preferir voltar à oposição e ali se fortalecer.
O líder do SPD, Martin Schulz, disse em Berlim que, “diante dos resultados das eleições, não estamos disponíveis para uma grande coalizão”. “Não temos medo de novas eleições.”
O chamado de Steinmeier por renovadas negociações, porém, pode ter apelo,sobretudo porque não é do interesse dos grandes partidos que o país volte a ter eleições gerais tão cedo.
Em primeiro lugar, porque as siglas poderiam ser responsabilizadas pelos eleitores pelo fiasco político e, dessa maneira, perder votos.
Outra razão é que a repetição do pleito poderia favorecer o partido de direita ultranacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha), que tem hoje 92 assentos dos 709.
Se os partidos não conseguirem chegar a acordo nenhum para formar uma coalizão nas próximas semanas, o presidente Steinmeier será obrigado a nomear um chanceler interino para ser aprovado pelo Parlamento -provavelmente a própria Merkel.
Após três rodadas de votos entre legisladores, caso ainda não haja um governo, será preciso convocar eleições.