BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, apontou dúvida sobre a conclusão de que houve corrupção por parte de Michel Temer no caso da JBS. Em entrevista coletiva nesta segunda (20), após cerimônia de transmissão de cargo no Palácio do Planalto, Segovia criticou o pouco tempo dedicado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) à investigação do caso.

Temer foi denunciado por Rodrigo Janot, então procurador-geral, sob suspeita de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa em decorrência da delação de Joesley Batista. “A gente acredita que, se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigação teria de durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”, afirmou. “É um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro.”

A mala a que Segovia se refere foi um dos pilares da primeira denúncia oferecida pela PGR contra o presidente. A acusação foi barrada pela Câmara em agosto. O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi flagrado saindo de uma pizzaria em São Paulo com R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS. Para Janot, o dinheiro era fruto de corrupção e tinha autorização de Temer para ser recebido. A PF, em seu próprio relatório à época, chegou à mesma conclusão.

Procurado pela Folha, Janot disse que as declarações de Segovia mostram desconhecimento da legislação e do trabalho desempenhado pelos policiais federais nas investigações que levaram a PGR a denunciar Temer. “A pergunta que não quer calar é: ele se inteirou disso ou ele está falando por ordem de alguém? Ele conversou com os colegas que participaram dessa investigação?” O procurador Carlos Fernando Lima, da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, ironizou a declaração do diretor-geral: “Começou bem”.

Segovia foi empossado nesta segunda no lugar de Leandro Daiello, que estava havia quase sete anos no posto. Temer participou da cerimônia, fato inédito na história das transmissões de cargo da polícia, segundo a PF. O diretor disse ainda que alguns fatos da delação da JBS precisam ser melhor explicados. Ele citou os ganhos obtidos pela empresa no mercado financeiro após a divulgação dos áudios. Os irmãos Joesley e Wesley Batista tornaram-se réus em outubro sob acusação de uso de informação privilegiada e manipulação de mercado. Segundo o Ministério Público, a Comissão de Valores Mobiliários apurou que os irmãos tiveram lucro de R$ 100 milhões na compra de dólares.

CARNE FRACA

O diretor-geral também criticou a Operação Carne Fraca, desencadeada pela PF do Paraná contra frigoríficos. “Na Carne Fraca, houve talvez uma falta de avaliação efetiva nas conclusões da investigação”, disse. A operação mostrou casos de corrupção envolvendo autoridades da área sanitária, mas também apontou que algumas empresas adotaram práticas irregulares, mas que, na verdade, era permitidas pela regulamentação do setor. Segovia também defendeu a Lava Jato. “Não tem nenhum tipo de viés político, ela já é conduzida há mais de três anos, está muito bem conduzida pelo juiz Sergio Moro que tem sido exemplo de caso criminal junto com a Polícia Federal e Ministério Público.”