Os 30 anos há muito não representam o fim da carreira dos modelos. Cada vez mais, profissionais veteranos estão sendo requisitados para campanhas publicitárias em revistas e na televisão, além de trabalhos em passarela e institucionais. Especialistas e os modelos atribuem isso ao forte movimento de valorização da diversidade e pelo fato de os consumidores terem o interesse de se sentir representados pelas pessoas que estão divulgando produtos.

Há quase 20 anos atuando em propagandas, o modelo Nacib Yareb, de 81 anos, usa o nome artístico Bibo e nunca imaginou que um dia trabalharia na área. “Sempre fui vendedor, representante comercial e trabalhei muitos anos com papelaria.

Minha nora falou para eu começar nessa área e eu entrei meio de paraquedista, sem ter noção. Fui me aprofundando e não imaginava que esse mercado era tão grande.” Ele diz que a concorrência até aumentou. “Tem bem mais gente entrando no mercado. A gente ia fazer teste e, se tinha 12 velhos, era muito. Agora, tem 30, teve um aumento nos últimos dois anos.”

Empresário e modelo, Paulo Zulu, de 54 anos, está no ramo desde os 28 anos e diz ter aprendido com a experiência e o profissionalismo a lidar até com rejeições. “Às vezes, o cliente quer outro rosto e a pessoa tem de ter a humildade para entender qual é a sua hora. O mundo da moda joga muito o modelo para cima, mas ele é um profissional que, se vender muito, é um excelente profissional. Eu sou um vendedor por meio da minha imagem.”

Ele acredita que a presença de modelos veteranos está ligada ao interesse do consumidor de se sentir representado. “Esse tabu de idade está sendo quebrado e o mercado vem junto.”

A carreira da modelo Lisa Grahan, de 52 anos, teve início quando ela tinha 19 e ainda morava na Inglaterra, onde nasceu, e durou até por volta dos 28 anos. Ela morou no Brasil e, aos 40, retomou a carreira em Nova York. “Nos Estados Unidos e na Europa, tem um grande mercado para mulheres acima de 40 anos e isso não existia aqui.” Ela afirma que a situação está mudando. “Tinha um preconceito, as mulheres se sentiam velhas, mas é muito legal ver essas pessoas na revista. Isso é bom para todo mundo, porque é o que vemos nas ruas.”

Na última edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), o estilista Ronaldo Fraga levou a situação à passarela. “De 2009 para cá, quando fiz o primeiro desfile (com modelos mais velhos), isso mudou bastante, mas, ainda assim, a moda mostra o ideal de pessoa que quase não existe. As pessoas estão buscando representatividade, não só o novo velho, mas as questões sexuais, os grupos plus size, o deficiente físico. E precisamos lançar luz para esses grupos.”

Diferencial
Aos 52 anos, o modelo Jorge Gelati coleciona trabalhos nacionais e internacionais de uma carreira que começou quando ele estava com 23 anos e morava em Porto Alegre. Segundo ele, os cabelos grisalhos acabaram favorecendo o seu trabalho. “Nas primeiras agências que encontrei em São Paulo, falaram que eu teria de pintar o cabelo, mas isso não aconteceu.”

O modelo diz já se deparou com pessoas que questionaram o fato de ainda atuar na área, mas diz que isso tem ocorrido com menos frequência. “Coloquei na minha cabeça que, enquanto existir a demanda e quiserem usar a minha imagem, por quê não? Não vejo uma razão para fechar as portas.”

Sonho
Proprietária da Fifty Models, Maria Rosa Horn, de 59 anos, resolveu criar uma agência voltada para modelos acima dos 50 anos quando resolveu ser modelo e se deparou com um mercado fechado para esses profissionais. ” Quando comecei, era um tabu. De cinco anos para cá, esse mercado cresceu uns 60%.” A agência tem, atualmente, 30 modelos.