FLAVIO SAMPAIO
PORTLAND, EUA (FOLHAPRESS) – Se depender de uma pequena empresa de jogos de Chicago e de mais 150 mil clientes, os planos de Donald Trump para construir um muro entre os EUA e o México terão de esperar. E muito.
A estratégia do Cards Against Humanity (cartas contra a humanidade, ou CAH), jogo politicamente incorreto que virou febre nos EUA, é simples: comprar um terreno na fronteira dos dois países para revendê-lo em microlotes de US$ 15 (R$ 50) cada um.
Assim, acreditam os idealizadores, o processo de desapropriação será mais lento e oneroso. Em apenas nove horas, os 150 mil lotes disponíveis foram vendidos, arrecadando US$ 2,25 milhões.
Desde 2013 o CAH cria ações inusitadas às vésperas da Black Friday, o dia de compras que nos EUA se segue ao feriado de Ação de Graças. Neste ano, o time de comediantes que criou o jogo resolveu mirar no maior alvo disponível nos EUA: Trump.
“Estamos em 2017 e o governo está sendo tocado por um vaso sanitário”, afirma o vídeo da campanha. “Trump é uma criatura amorfa que tem medo de mexicanos. Tanto medo que quer erguer um muro de US$ 20 bilhões que todos sabem que não servirá para nada”, diz a empresa, que contratou uma firma de advocacia especializada em desapropriação.
Além de ganhar um certificado do microlote fronteiriço, cada cliente receberá em casa “seis surpresas salvadoras da América” até o Natal.
A primeira inclui um mapa da região e alguns cartões novos para o jogo que é baseado em perguntas e respostas irônicas. As demais ainda são uma incógnita.
“Não tenho ideia do que será enviado, e isso que é bacana. No passado, eles mandaram meias, cartões personalizados do jogo e outras coisas aleatórias”, diz Paul Debruler, um dos clientes.
“Já participei de outras campanhas de fim de ano do CAH, algo sempre criativo e hilariante. Há dois anos, eles compraram um quadro do Picasso e prometiam fatiá-lo em pedacinhos para que muito mais gente pudesse ter uma obra legítima dele em casa”, diz ele, que vive em Portland.
Por votação dos próprios clientes do site, a obra do pintor espanhol Pablo Picasso acabou sendo doada para um museu em Chicago.
“Participei desta ação para mostrar minha desobediência civil em relação ao muro”, diz o designer Todd Greco. “E também porque eu adoro o humor deles.”
O JOGO
O deboche é a marca desta empresa criada por oito amigos de escola em Chicago. O que começou há seis anos como brincadeira financiada pela plataforma de financiamento coletivo Kickstarter, tornou-se hoje uma empresa com 30 funcionários.
O jogo original tem dois tipos de cartas: 90 pretas, com perguntas, e 460 brancas como opções de respostas.
A cada rodada uma pessoa é o “czar”, responsável pela pergunta, enquanto os demais escolhem a resposta mais engraçada dentre as 10 opções que têm nas mãos.
O czar decide quem deu a melhor resposta. Quem tiver mais pontos ganha.
Exemplo de pergunta: Qual é meu poder secreto? Possíveis respostas: “sexo oral ao dirigir”; “usar roupa íntima do avesso para evitar uma lavada”; “lamber coisas para estabelecer que são suas”.
O jogo é um sucesso de vendas. Varejistas como Target e Amazon o vendem por US$ 25, mas qualquer pessoa pode baixar o arquivo gratuitamente no site da empresa.
“O jogo está disponível sob licença gratuita. Isso significa que você pode usar e compartilhar sem custo mas não pode vendê-lo sem nossa permissão. Por favor, não roube nosso nome, ou iremos esmagá-lo”, alerta o site.
Sem previsão para venda no Brasil, o CAH tem duas versões gratuitas traduzidas por fãs disponíveis para baixar no site www.cardsagainsthumanity.com.
Em 2014, a loja enviou cocô de vaca a 36 mil pessoas que pagaram US$ 6 na Black Friday de seu site por “bullshit”, “bobagem” em inglês. Em 2015, 11.248 pessoas gastaram US$ 5 ou mais para receber o anunciado: nada.