LUIZA FRANCO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Pivô da recente guerra na favela da Rocinha, no Rio, o traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, foi preso na manhã desta quarta-feira (6) na comunidade do Arará, na zona norte, numa megaoperação que levou euforia a agentes de segurança, mas incerteza em relação ao domínio das facções criminosas e à violência no Estado. A prisão do criminoso mais procurado do Rio ocorre após disputa pelo tráfico que já deixou 20 mortos e 14 feridos na Rocinha desde setembro. Embora comemorada pelo governo Luiz Fernando Pezão (PMDB) e exaltada por policiais que chegaram a fazer selfies ao lado do criminoso, ela está longe de garantir a estabilidade na maior comunidade fluminense, como reconhecem as forças de segurança. “A história do Rio mostra que essas pessoas acabam sendo sucedidas. Por isso reitero e suplico: há fatores em que nós não interferimos”, disse Roberto Sá, secretário da Segurança, que pediu auxílio das Forças Armadas (que destacou 950 homens) em meio à guerra na Rocinha. A polícia não descarta agora a possibilidade de uma nova disputa de território na comunidade. Disparos de arma de fogo foram ouvidos na favela pela manhã, no que seria uma comemoração da parte de rivais de Rogério 157. O traficante estava sob abrigo do CV (Comando Vermelho), que controla hoje as bocas de fumo da Rocinha. Antes, havia sido segurança de Antônio Bonfim Lopes, conhecido como Nem, chefe da ADA (Amigos dos Amigos) e que foi preso em 2011. A ruptura entre os dois resultou na guerra entre facções pelo controle do tráfico da favela. Segundo a Polícia Civil, ainda não está claro nem mesmo se a ADA terá forças para seguir existindo. Depois de perder controle da Rocinha, muitos membros debandaram para outras facções. Delegado responsável pela região da Rocinha, Antonio Ricardo Lima, diz que não descarta nenhuma hipótese no futuro da comunidade. “Acontecem muitas traições. Tem criminosos que já mudaram de lado três vezes. Não descarto nada”, afirmou. A polícia pedirá a transferência de Rogério 157 para um presídio federal, na tentativa de dificultar sua articulação com outros criminosos. A Polícia Militar, que ocupa a Rocinha desde setembro, permanecerá no local, onde mantém 550 agentes, 67 veículos e duas aeronaves. “Haverá uma atenção especial em razão dos desdobramentos que essa prisão pode ocasionar”, disse Sá. recompensa Rogério 157 era procurado pelos crimes de tráfico de drogas, associação ao tráfico, extorsão e homicídios. O Estado chegou a oferecer R$ 50 mil de recompensa para obter informações do paradeiro dele. O traficante ganhou status no crime por sua atuação na invasão, por bandidos, do Hotel Intercontinental, em São Conrado, em 2012, após a polícia interceptar um grupo que voltava de festa no Vidigal. Ele foi preso numa casa onde estava escondido na favela do Arará. Os agentes não divulgaram as fontes que os levaram ao local. Segundo a polícia, ele vinha transitando entre favelas dominadas pelo Comando Vermelho. O dono da casa não teve sua identidade divulgada. A polícia investiga sua relação com Rogério 157. No momento da prisão, ele estava desarmado e demonstrou surpresa ao ser reconhecido. De acordo com os agentes, ele vinha tomando medidas para alterar sua aparência, como apagar tatuagens. O delegado Gabriel Ferrando afirmou que, embora não tenha resistido à prisão, Rogério 157 tentou subornar os agentes, dizendo “vocês podem fazer suas vidas aqui”. Outros seis suspeitos foram presos na operação e dois menores de idade foram apreendidos. Também foram apreendidas armas e drogas. SERVIÇOS A operação policial levou ao fechamento de unidades de saúde, escolas e creches. Uma clínica da rede pública lotada de mulheres grávidas, mães com crianças de colo e idosos ficou no centro de um tiroteio entre traficantes e policiais. Os disparos foram registrados como forma de retaliação à megaoperação. Sem ter para onde ir, usuários e profissionais ficaram empilhados no chão da clínica de família Anthidio Dias da Silveira, no Jacarezinho, na zona norte. A troca de tiros se intensificou às 12h, e a unidade teve que suspender os atendimentos. Pacientes e trabalhadores ficaram deitados se protegendo dos disparos por cerca de uma hora. Na Rocinha, a clínica de família fechou pela manhã, assim como outras na região. Unidades escolares na Serrinha, Mangueira, Mandela, Manguinhos, Tuiuti, Benfica ficaram fechadas. No total, foram sete escolas, 12 creches e dois Espaços de Desenvolvimento Infantil, totalizando 6.226 alunos sem aulas. CRISE O Estado do Rio enfrenta uma grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e se aproximou de um colapso na segurança pública. Um outro efeito dessa crise tem sido a alta dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico, perderam parte de seu efetivo. Nos últimos meses, têm sido rotina mortos e feridos por bala perdida, além de motoristas forçados a descer de carros para se proteger dos tiros. Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram 124 PMs assassinados no Estado. A situação de insegurança também levou o presidente Michel Temer (PMDB) a autorizar o uso das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Rio até o final do ano que vem. Depois da prisão de Rogério 157, o secretário da Segurança cobrou a discussão de outras medidas para ajudar a frear a violência no Estado. “Prisões acontecem dia e noite, mas a sociedade tem que atacar a impunidade e o acesso fácil a armas de fogo que não poderiam estar na mão de criminosos”, afirmou Sá, para quem a prisão do traficante foi “emblemática”. “É um criminoso que há mais de dez anos vem causando problemas para o Rio.”